Folha de S. Paulo


Coreia do Norte atrai 3.500 turistas ocidentais por ano

Se você estivesse planejando sair de férias, consideraria a Coreia do Norte como destino turístico? O mais provável é que, em meio à crescente tensão na Península Coreana, a resposta seja não.

Ainda mais sabendo que turistas são vigiados e enfrentam uma série de restrições e ainda os constantes apagões na capital, Pyongyang.

No entanto, mais de 3.500 turistas ocidentais visitam o país asiático todos os anos. E acredita-se que este número esteja aumentando.

O país enigmático não é uma opção barata. Uma excursão típica de cinco noites custa cerca de US$ 1.500 (R$ 2.900).

Mas qual é o apelo, então, desse país comunista tido como o mais fechado do mundo?

Carl Meadows é um guia turístico especializado em Coreia do Norte e já visitou o país 15 vezes nos últimos oito anos.

"Os grupos são formados por viajantes experientes, de mente aberta, que já ouviram muito sobre este lugar e querem comprovar por si mesmos", disse à BBC.

"Pyongyang é uma cidade modelo", diz ele. "A maioria das pessoas acha fascinante passar um tempo no que é uma das cidades mais estranhas do mundo".

O que a maioria dos visitantes estrangeiros encontram ao chegar é uma visão panorâmica arrumada de uma república hermética.

Quase não há sinais de pobreza, escassez de alimentos, ou abusos de direitos humanos que prejudiquem sua população.

De fato, enquanto estão em Pyongyang, os turistas podem esperar boa alimentação e são tratados como "hóspedes do Estado". Eles ficam hospedados em hotéis especiais para turistas e, em caso de problemas de saúde, são atendidos em hospitais para estrangeiros.

MARBELLA

As visitas a museus, monumentos e outros lugares turísticos são planejadas com precisão militar. Quando os turistas saem de seus hotéis são sempre acompanhados por guias e um motorista.

Como observam operadores turísticos, qualquer ocidental que deseje visitar o país --com exceção de jornalistas-- recebem visto com facilidade.

Andrew Drury é um "turista aventureiro" de Surrey, na Inglaterra, e já viajou com seu primo Nigel Green a muitas zonas de perigos, de Mogadíscio, na Somália, ao Iraque. Aos 47 anos e com quatro filhos, o diretor de uma empresa de construção passou uma semana na Coreia do Norte no ano passado.

"Comparada à Mogadíscio, que realmente é perigosa, ir a Pyongyang foi como ir a Marbella (na Espanha)", disse.

"O país está tão deteriorado e tão pobre que dá vontade de rir quando penso que estamos preocupados que eles comecem uma guerra. Não podem manter a eletricidade funcionando por mais de meia hora", diz Drury.

Andrew conta que, na fronteira, apreenderam seus telefones e computadores, mas como não sabiam o que era um iPad, deixaram que ficasse com o tablet. "Como não há internet, não pudemos enviar e-mails. Quando mostrei alguns vídeos a uma mulher da segurança, ela nem sequer sabia quem eram os Beatles", relembra Drury.

A maioria das excursões pela capital incluem o maior arco do triunfo do mundo, as estátuas gigantes dos "eternos presidentes" Kim Il-sung e seu filho Kim Jong-il, e o palácio convertido em mausoléu que exibem seus restos mortais.

"Quando se fala de Kim Il-sung e Kim Jong-il as pessoas choram. É um choro sincero, totalmente genuíno", diz Carl Meadows, cuja agência para qual trabalha, Regent Holidays, leva cerca de 300 pessoas por ano à Coreia do Norte.

"Alertamos aos turistas que não digam nada de negativo sobre os líderes (atual e os antigos) porque eles são tratados no país com verdadeira veneração", afirma.

ROTA

Analistas acreditam que o número de visitantes da Coreia do Norte venha aumentando gradualmente desde que o país abriu suas fronteiras ao turismo ocidental, em 1987.

Os turistas chegam a Pyongyang de trem ou avião a partir de Pequim, utilizando a companhia aérea estatal Air Koryo ou a chinesa Air China. Mas a liberdade para perambular pelo país acaba na fronteira, junto com a tecnologia, como telefones e laptops.

Mas os turistas são muito bem tratados e a comida geralmente é abundante. Os guias se preocupam em promover a imagem de um Estado abundante e, em geral, as pessoas ficam surpresas com a qualidade.

A agência de viagens Lupine, com base em Lancashire, na Inglaterra, organiza viagens à Coreia do Norte para entre 300 e 400 turistas por ano.

"Quando comecei o negócio meu objetivo de mercado eram os mochileiros, mas nunca cheguei a esses clientes. Agora tenho um grupo amplo de viajantes entre 18 e 85 anos", explica à BBC o diretor da agência, Dylan Harris.

Harris recebeu uma correspondência na semana passada da Associação de Amigos Coreanos (KFA), organização filiada ao governo norte-coreano, advertindo sobre a possibilidade de guerra iminente.

Ele pretende levar um grupo a Pyongyang nos próximos dias e não tem planos de cancelar a excursão. "Nunca deixaria alguém viajar para um lugar perigoso, mas por enquanto acho que não há riscos", diz.


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