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Gangue de mulheres armou plano para sequestrar Silvio Santos

"Para pagar um resgate de 800 milhões de cruzeiros velhos, eu precisaria trabalhar durante 80 anos", afirmou o apresentador Silvio Santos ao "Notícias Populares" dias após ter sido ameaçado de sequestro em 1969, em São Paulo. Passado o susto, o assunto foi o principal destaque do jornal em 1º de outubro daquele ano.

A façanha contra o apresentador e empresário, então com 38 anos, partira de uma suposta quadrilha denominada "Gang", cujos integrantes, mesmo não tendo consumado o sequestro, prenunciaram a quantia de 800 milhões de cruzeiros velhos (equivalente a cerca de R$ 13,4 milhões) como valor de resgate.

Silvio Santos, no entanto, decidira pelo não envolvimento da polícia e da imprensa no caso. A estratégia era não fazer alarde em torno do episódio.

out.1969/Folhapress
O apresentador Silvio Santos, em 1969
O apresentador Silvio Santos, em 1969

O "NP" relatou que, embora o apresentador tivesse passado "por dias de verdadeiro terror" com o impasse, em nenhum momento descartou a hipótese de a ameaça ter sido "uma brincadeira de mau gosto" por parte de amigos ou admiradores, o que para ele era o mais provável.

Na ocasião, Silvio Santos já era um dos mais prestigiados animadores da TV brasileira, onde comandava dois programas homônimos: um exibido às sextas-feiras pela extinta TV Tupi (canal 4), e o outro, aos domingos pela TV Paulista (hoje Rede Globo). Silvio Santos também já desfrutava do status de homem mais rico entre os artistas e apresentadores de TV da época.

A ameaça só foi divulgada após semanas pelo apresentador. Contudo ainda não tinham sido descobertos os responsáveis pelo impasse, que para o empresário já era página virada.

No entanto, no mesmo 1º de outubro em que o "NP" noticiara a ameaça, e quando tudo parecia "serenar" diante do caso, a reportagem do jornal fora surpreendida por um misterioso telefonema: era uma voz feminina anunciando que não estava descartada a possibilidade do sequestro do empresário. No decorrer da ligação, a enigmática interlocutora deixou escapar que um grupo de mulheres entraria na "jogada" do sequestro.

A nova ameaça rendeu ao "NP" a reportagem "Gang de mulheres no rapto de Silvio Santos", veiculada em 2 de outubro de 1969. Nela, o jornal contou que nenhuma medida havia sido tomada com relação à segurança do apresentador. As autoridades locais, por sua vez, declararam que não haviam recebido qualquer queixa do empresário referente à nova ocorrência.

A notícia motivou inúmeros telefonemas para a redação do "NP", todos vindos de espectadoras e frequentadoras assíduas dos programas do apresentador. Em outra reportagem, "Esquadrão de mulheres defende Silvio Santos das ameaças de rapto", publicada no dia 3 de outubro, o periódico dava detalhes do contato das fãs do apresentador com o jornal: "(...) Muitas foram as moças que ligaram para a redação afirmando estarem dispostas a defender o animador de televisão(...) Uma delas, residente na Penha [região leste de São Paulo], frisou que na rua onde mora, as jovens estariam se reunindo para formar um verdadeiro 'esquadrão' em defesa do artista". Era a prova do prestígio conquistado por Silvio Santos por meio da TV e do rádio. Todavia a origem das ameaças ainda era um enigma a ser desvendado.

1969/Folhapress
Silvio Santos em um dos programas televisivos que apresentava em 1969
Silvio Santos em um dos programas televisivos que apresentava em 1969

Silvio Santos, então, resolvera fazer uma visita ao "NP" para falar sobre as ameaças: "(...) Não comentei com meus familiares, guardei o segredo comigo e só o revelei à esta redação em conversa com amigos(...) Temi por alguns instantes, mas depois coloquei a cabeça no lugar e vi que nada tinha a oferecer para quem quer que fosse em troca da minha integridade física".

Em seu depoimento, Silvio Santos reafirmou ainda acreditar que as ameaças teriam partido de algum "amigo brincalhão" ou de fãs. Falou também das dificuldades enfrentadas ao longo da vida. E contou de suas conquistas, frutos de trabalho árduo e contínuo.

Por fim, em 5 de outubro, um dia após a ida do apresentador à redação do "Notícias Populares", o enigma fora revelado pelo jornal. Em reportagem intitulada "Esclarecido 'rapto' de Silvio Santos", o jornal conseguira a informação de que tudo não passava de um plano elaborado por um grupo de fãs do apresentador que tinha como pretexto estar mais próximo do ídolo, um desfecho já estimado pelo maior animador da televisão brasileira.

Em outro episódio, porém, ocorrido em 30 de agosto de 2001, quando o "Notícias Populares" já havia sido extinto, Silvio Santos foi mantido refém durante sete horas pelo sequestrador Fernando Dutra Pinto, 22, em sua casa no bairro do Morumbi (região oeste de São Paulo). O governador Geraldo Alckmin, a pedido do bandido e acompanhado de cerca de 200 policiais, participou da negociação para a rendição do criminoso.

Fernando Dutra Pinto era o mesmo homem que uma semana antes havia sequestrado a filha do empresário, a hoje apresentadora do SBT Patrícia Abravanel, que, com 23 anos na ocasião, havia sido mantida por sete dias em cativeiro. O desenlace de ambos os casos foi bem-sucedido para pai e filha, e o bandido acabou detido.


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