Folha de S. Paulo


Da criação do jornal ao futuro digital; veja 9,5 marcos da história da Folha

Durante sua trajetória, jornal acompanha as mudanças do país e do mundo, ao mesmo tempo em que desenvolve seu projeto editorial e expande sua atuação

*

1921-1930 - BARULHO NAS RUAS

O jornal nasce vespertino, com o nome "Folha da Noite", oito páginas e a intenção de ser diferente dos concorrentes: apresenta mais noticiário, menos artigos, textos mais curtos e espaço para esportes. O sucesso permite aos sócios Olival Costa e Pedro Cunha comprarem sede e rotativas e lançarem outro título, a "Folha da Manhã". Com páginas para crianças, mulheres e até textos em chinês, árabe, russo e alemão –visando as comunidades de imigrantes instaladas em São Paulo–, as Folhas atendem a um leitorado urbano de classe média

Editoria de Arte/Folhapress
Durante a Segunda Guerra Mundial, a 'Folha da Noite' chega a atualizar o noticiário em até oito edições em um mesmo dia
Durante a Segunda Guerra Mundial, a 'Folha da Noite' chega a atualizar o noticiário em até oito edições em um mesmo dia

-

1930-1945 - DEPREDAÇÃO E GUERRA

Na eleição presidencial de 1930, as Folhas atacam a política de Getúlio Vargas. Em outubro do mesmo ano, a sede da Folha é invadida e destruída por partidários do político: móveis e papéis viram fogueira na rua. O que sobra é comprado em 1931 pelo fazendeiro e comerciante Octaviano Alves de Lima, que, aos poucos, delega o rumo dos jornais a intelectuais, como o poeta Guilherme de Almeida, e a jornalistas antigetulistas, como Hermínio Sacchetta. Um dos destaques das Folhas nesse período foi a cobertura da Segunda Guerra Mundial

Editoria de Arte/Folhapress
Charges de Benedito Bastos Barreto, o Belmonte, sobre Hitler são publicadas até no exterior na Segunda Guerra. O caricaturista chegou a ser criticado por Joseph Goebbels, ministro da propaganda do Terceiro Reich, em emissão internacional da rádio de Berlim, a propósito de caricaturas que ridicularizavam Hitler. Ao saber, Belmonte agradeceu pela
Charges de Benedito Bastos Barreto, o Belmonte, sobre Hitler são publicadas até no exterior na Segunda Guerra. O caricaturista chegou a ser criticado por Joseph Goebbels, ministro da propaganda do Terceiro Reich, em emissão internacional da rádio de Berlim, a propósito de caricaturas que ridicularizavam Hitler. Ao saber, Belmonte agradeceu pela "publicidade"
Editoria de Arte/Folhapress

-

1945-1960 - VELHA MANIA DE MANUAL

Frustrado com sua experiência na imprensa, Octaviano Lima vende a empresa ao fazendeiro Alcides Ribeiro Meirelles, ao advogado José Nabantino Ramos e a Clóvis Queiroga, ligado ao industrial italiano Francisco Matarazzo Júnior. Em 1948, Nabantino assume a Direção de Redação e implanta manual de procedimentos, avaliação interna e controle de erros. Em 1949, a empresa lança a "Folha da Tarde" e, em 1951, constrói um prédio para a nova rotativa, no local onde está até hoje a sede. O jornal investe em reportagens ruidosas e campanhas cívicas. No final de 1955, contabiliza 24 campanhas simultâneas, que tratavam de assuntos tão diversos quanto poluição de praias, exploração de retirantes nordestinos, reforma eleitoral e ampliação de vagas em cemitérios

-

1960-1968 - FOLHA DE S.PAULO E ALÉM

Em 1962, a empresa é vendida a Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho. Ela havia unificado, em 1960, as Folhas "da Manhã", "da Tarde" e "da Noite" sob o título Folha de S.Paulo e consolidado as três edições diárias em uma, matutina. Com experiência no setor financeiro, Frias saneia as contas e diversifica os negócios em três frentes: investe em distribuição e amplia sua circulação fora da capital, transforma o parque gráfico no mais moderno do país e compra a Litographica Ypiranga, os jornais "Notícias Populares" e "Última Hora" e parte da TV Excelsior. Passa a administrar ainda os jornais "Gazeta" e "Gazeta Esportiva", lança a "Cidade de Santos" e relança, em 1967, a "Folha da Tarde"

-

1968-1974 - A SOMBRA DA DITADURA

A Folha apoia o golpe de 1964, mas mantém distância do regime militar. Monta equipe que tinha à frente o jornalista Cláudio Abramo, identificado com a esquerda, menciona denúncias de tortura e reforça a cobertura de educação, para atrair estudantes. Com o AI-5, em 1968, a situação muda. A "Folha da Tarde", até então dirigida por militantes de oposição à ditadura, adota linha editorial de apoio aos militares. A Folha de S.Paulo, porém, passa a ser monitorada pela repressão, que chama o jornal de "veículo de propaganda do Partido Comunista". A violência se acirra em 1971, quando caminhonetes do jornal são incendiadas pela ALN, grupo da luta armada

-

1974-1983 - BALAIO DE GATOS

Atenta à distensão do governo Geisel, a Folha abre as páginas para intelectuais que voltavam à cena. Cria a seção Tendências/Debates e passa a reportar casos de violações de direitos humanos, entre eles a morte de Vladimir Herzog. Os editoriais, suspensos desde 1972, voltam às páginas em 76. A Folha forma uma equipe de jornalistas de renome e se torna referência para o debate político e cultural. Intensifica o pluralismo, a ponto de ser chamado pejorativamente de "balaio de gatos". Em 1981, Otavio Frias Filho responde: "Quanto mais balaio de gatos, melhor". Em 1982, o Conselho Editorial estabelece diretrizes do que viria a ser o Projeto Folha, defendendo o aperfeiçoamento técnico e o apartidarismo

-

1983-1984 - O JORNAL DAS DIRETAS

A Folha adota a defesa das eleições diretas para a Presidência antes mesmo que o movimento tomasse as ruas, o que a levou a ser chamada de "o jornal das diretas". A primeira manifestação do jornal ocorreu em março de 1983, mês em que foi levada ao Congresso a emenda que propunha a volta do sufrágio direto. A campanha ganhou corpo a partir de novembro, quando o tema alcança mais destaque na capa. O fracasso do comício de 27 de novembro em SP fez a Folha redobrar a atuação: no dia seguinte, o editorial do jornal criticava a falta de capacidade de mobilização de PT e PMDB e o silêncio da mídia, em especial rádio e TV. Em abril de 1984, a Folha lançou o bordão "Use amarelo pelas Diretas-Já"

Editoria de Arte/Folhapress
Páginas da Folha mostram apoio do jornal à campanha das Diretas; no alto, capa relata que a emenda foi derrotada
Páginas da Folha mostram apoio do jornal à campanha das Diretas; no alto, capa relata que a emenda foi derrotada

-

1984-1995 - O MAIOR JORNAL DO PAÍS

Otavio Frias Filho assume a Direção de Redação e implanta o Projeto Folha, que defende o jornalismo crítico, pluralista, apartidário e moderno. Em 1985, a Folha passa a disputar a liderança nacional com "O Globo" e, a partir de 1986, se consolida como o jornal de prestígio mais vendido do Brasil. A cobertura das primeiras eleições diretas após a ditadura é encarada como um teste para a imparcialidade. O jornal investiga a vida política de todos os candidatos e provoca a ira de Fernando Collor. O presidente manda a Polícia Federal invadir a sede em 1990, sob pretexto de suposta irregularidade na cobrança de anúncios. Em 1992, Luiz Frias assume a presidência da Empresa Folha da Manhã S.A.

Editoria de Arte/Folhapress
Edição extra da Folha em 1986, com a tabela de preços congelados do Plano Cruzado, marca o recorde de circulação na imprensa nacional, com 1,714 milhão de cópias
Edição extra da Folha em 1986, com a tabela de preços congelados do Plano Cruzado, marca o recorde de circulação na imprensa nacional, com 1,714 milhão de cópias

-

1995-2012 - NA ERA DA INTERNET

Em 9 de julho de 1995 entra no ar a FolhaWeb. Um ano depois, a empresa cria o UOL, por decisão de Luiz Frias. O sequestro do ônibus 174, em 2000, marca a competição pelo noticiário em tempo real. Das 15h19 às 23h17 são publicados 50 textos do caso. Com uma equipe integrada no digital e no impresso, a Folha promove em 2010, com o UOL, o primeiro debate eleitoral pela internet, visto por 1,4 milhão de pessoas. No período, ainda inaugura o maior parque gráfico da América Latina e lança o "Valor Econômico", em parceria com o Grupo Globo. Em 1997, na gestão FHC, o jornal mostra a tentativa de compra de votos para a reeleição. Em 2005, no governo Lula, publica entrevista na qual Roberto Jefferson revela o mensalão

Editoria de Arte/Folhapress
Capa da FolhaWeb, precursora do site da Folha, lançada em 1995 e primeiro jornal em tempo real do país
Capa da FolhaWeb, precursora do site da Folha, lançada em 1995 e primeiro jornal em tempo real do país

-

2012 E ADIANTE - UM NOVO MODELO

Escorada na saúde financeira do grupo empresarial, a Folha é o primeiro jornal no Brasil a adotar novo modelo de negócios para o jornalismo digital, o paywall poroso, em que o acesso ao noticiário on-line é gratuito até um certo limite de textos. Mesmo com a cobrança, a circulação e audiência do jornal se mantêm crescentes –a Folha fecha 2015 com média mensal de 20 milhões de leitores. A estabilidade permite atravessar a crise econômica –que abate receitas publicitárias e eleva os custos–, lançando produtos e novos formatos, em plataformas diferentes, sem perder qualidade jornalística. É a Folha o jornal impresso mais premiado da história do país, segundo o site "Jornalistas & Cia."


Endereço da página: