Folha de S. Paulo


Entenda o que é a meta fiscal e como ela afeta a sua vida

Pedro Ladeira/Folhapress
Os ministros Joaquim Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa, do Planejamento
Os ministros Joaquim Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa, do Planejamento

Com a recessão econômica, que afeta a arrecadação de tributos, o governo tem encontrado dificuldades para cumprir a chamada meta fiscal, ou seja, a economia que ele prometeu fazer para manter a dívida pública sob controle.

Nesta quarta-feira (22), o governo anunciou a redução para 0,15%.

O governo estimou que a dívida bruta subirá a 64,7% do PIB neste ano e 66,4% no próximo, mas depois começará a cair.

Saiba mais sobre a meta e entenda por que ela é importante para todos os brasileiros:

O que é a meta fiscal?

É a economia que o governo promete fazer para impedir que a dívida pública cresça. É medida como superavit primário (receitas menos despesas, exceto as com juros) em proporção do PIB.

Quem define a meta?

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), proposta pelo governo e aprovada pelo Congresso. Os governos calibram a economia prevista de acordo com o que desejam para a dívida: para que ela caia, é preciso economizar mais.

Sergio Moraes/Reuters
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, no lançamento de moedas comemorativas da Olimpíada de 2016
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, no lançamento de moedas comemorativas da Olimpíada de 2016

Qual era a meta do governo? E agora?

Infográfico Superavit menor - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

A economia prometida pelo governo no final do ano passado, para 2015, era de R$ 66,3 bi, ou 1,1% do PIB.

Nesta quarta (22), o governo revisou essa meta e prometeu economizar R$ 8,747 bilhões, ou 0,15% do PIB.

O texto que será enviado ao Congresso, no entanto, terá uma cláusula de abatimento da meta, se as expectativas de receita não forem cumpridos. Ou seja, se necessário, a economia prometida será reduzida.

Fernando Frazão - 24.jul.2012/Folhapress
Cédulas em fábrica da Casa da Moeda do Brasil (CMB), em Santa Cruz, no Rio
Cédulas em fábrica da Casa da Moeda do Brasil (CMB), em Santa Cruz, no Rio

Como é calculada a meta?

No início do ano, o governo estima as receitas para o período e ajusta as despesas para assegurar a poupança prometida. Os governos "calibram" o resultado primário que desejam alcançar de acordo com a meta que têm para a dívida.

Se desejam fazer a relação dívida/PIB cair, precisam de um superavit primário maior. Se acreditam que a relação dívida/PIB pode ficar constante ou subir, programam um resultado primário menor.

O superavit primário requerido para estabilizar a dívida pública em relação ao PIB será tanto maior quanto:

  • a) maior for a taxa de juros;
  • b) menor for a taxa de crescimento do PIB;
  • c) maior for a relação "dívida pública/PIB" inicial.
Marcelo Camargo/Divulgação/Agência Brasil
Vista do Congresso Nacional, em Brasília
Vista do Congresso Nacional, em Brasília

Por que o governo implantou uma mudança na meta?

Porque, por lei, as receitas e despesas têm de ser reavaliadas para verificar se as projeções do Orçamento se cumprirão. Se a meta corre qualquer risco, o Executivo deve promover bloqueios preventivos de gastos.

Como a arrecadação do governo neste ano deve ser frustrada em cerca de R$ 46 bilhões e as despesas obrigatórias devem subir R$ 11,4 bilhões, o governo precisou rever a meta.

As avaliações bimestrais têm de ser enviadas ao Congresso.

Há consequências para o governo que não cumpre a meta?

Ele desrespeita a Lei de Responsabilidade Fiscal. Foi para evitar isso que, no ano passado, o governo usou um artifício para "encaixar" a meta nas suas despesas.

Com as contas no vermelho, ele conseguiu que o Congresso autorizasse que um valor maior de obras do PAC não fosse contabilizado como despesa.

O governo atual vai atingir a economia prometida?

Infográfico realismo fiscal - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Será provavelmente necessário tomar medidas adicionais para aumentar a receita e cortar gastos.

Antes da mudança na meta, o governo havia economizado só 12% do total prometido, e calculava que, sem aprovar novas medidas, terminaria o ano com superavit (poupança) perto de zero.

Mas o governo já não economizou até maio mais do que o previsto para o ano de 2015?

Sim, mas as contas públicas têm registrado deficit desde o ano passado (o governo arrecada menos do que gasta), o que tende a reduzir a economia.

Infográfico contas em desequilíbrio - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Por que o governo ficou tão longe da meta estabelecida antes?

Derrotas no Congresso impediram que o corte de ao menos R$ 10 bilhões em benefícios previdenciários e trabalhistas.

Falta de apoio parlamentar também barrou medidas para elevar a arrecadação ainda neste ano. No primeiro semestre, ela caiu 2,87% sobre o mesmo período de 2014, já descontada a inflação

O que muda com a nova meta?

Quanto maior a economia feita pelo governo, em proporção do PIB, maior sua capacidade para pagar juros e amortizar dívidas.

Uma relação elevada e crescente entre a dívida pública e o PIB, que está atualmente em 62,5%, indica que o governo poderá enfrentar dificuldades para refinanciá-la ou para pagá-la no futuro.

Para que essa relação permaneça estável, o governo precisa pagar, ao menos parcialmente, os juros incidentes sobre a dívida pública, impedindo-a de crescer a uma taxa superior à do PIB. É para isso que ele poupa superavit primário.

Infográfico o X da questão - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Como a mudança na meta afeta as pessoas do país?

Quanto menor a meta de resultado primário fixada pelo governo, maior a sua liberdade para aumentar despesas ou reduzir a arrecadação de tributos. O governo, no entanto, afirmou nesta quarta que não elevará gastos e tentará obter receitas adicionais.

Se for malsucedido, há risco de crescimento da dívida, que tem efeitos negativos sobre a economia, tais como: aumento do risco de inflação, de crise financeira, que acabam redundando em menor crescimento da economia.

Por outro lado, quanto maior a meta, maior seria o esforço feito pela população —tanto por meio de aumento dos impostos a serem pagos, quanto por meio de cortes de gastos (que significam conter os reajustes das aposentadorias pagas pelo INSS, reduzir a oferta de serviços de saúde etc.).

Os grupos que serão prejudicados pelos aumentos de tributos e/ou contenção de gastos reclamam (contribuintes, usuários de serviços públicos, servidores públicos, aposentados etc.).

Fontes: Ministério da Fazenda, governo federal


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