Folha de S. Paulo


Troca de farpas entre Muricy e diretoria do São Paulo é antiga; veja histórico

Um dia após o técnico Muricy Ramalho afirmar que há uma divisão na diretoria do São Paulo sobre sua permanência, o presidente Carlos Miguel Aidar fez um pronunciamento em nota oficial assegurando a permanência do treinador até o final do contrato e o desejo de renovar. Ambos episódios reforçam a crise que há no Morumbi.

O problema entre treinador e diretoria ficou evidente no início deste ano, após o presidente cobrar publicamente títulos do técnico. Aidar chegou a dizer que Muricy estava "devendo essa". A cobrança foi reforçada mais de uma vez pelo vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro.

Em agosto do ano passado, bem antes das atuais declarações, a crise entre os dois lados já deu os primeiros sintomas. Aidar chegou a cobrar publicamente Muricy após o São Paulo ser eliminado pelo Bragantino na Copa do Brasil. O treinador rebateu, já em novembro, cobrando dos diretores agilidade no planejamento.

VEJA ABAIXO OS MOMENTOS DE TENSÃO ENTRE TÉCNICO E DIRETORIA

Paciência

Ricardo Nogueira/Folhapress
Carlos Miguel Aidar visita CT do São Paulo
Carlos Miguel Aidar visita CT do São Paulo

Em 14 de agosto do ano passado, Um dia após o São Paulo ser eliminado da Copa do Brasil pelo Bragantino –foi derrotado no Morumbi pelo então vice-lanterna da Série B–, Carlos Miguel Aidar foi ao centro de treinamento tricolor com justificativa de conduziria a apresentação do meia Michel Bastos. Mas cobrou técnico e jogadores.

"Falta alguma coisa ao time. Entrosamento, malícia. Não dá para tomar três gols do Bragantino. Tínhamos a vantagem de jogar pelo empate, era só tocar, mas abrimos o jogo. Estou decepcionado", disse Aidar. "Segundo a minha terapeuta, minha paciência está no fim. Vou esperar mais duas semanas para saber se ela tem razão."

Quero mais

Miguel Schincariol/AFP
Muricy Ramalho durante jogo que eliminou o São Paulo
Muricy Ramalho durante jogo que eliminou o São Paulo

Em 26 de novembro, logo que o São Paulo foi eliminado na Copa Sul-Americana pelo Atlético Nacional, no Morumbi –na decisão por pênaltis–, Muricy Ramalho cobrou a diretoria para ter mais agilidade nas contratações. Citou mais de uma vez o Cruzeiro como exemplo, o clube mineiro foi bicampeão do Brasileiro com a mesma base.

"Já temos uma base, mas precisamos de um plantel maior. Tem que começar a se programar três meses antes de acabar o ano. Conversamos com a diretoria, só que nada aconteceu. Estamos muito lentos. Temos que apertar um pouco mais. Não pode ficar nessa de 'ah, estou vendo'. Se quer o cara, tem que ir para cima", disse Muricy.

Não reclama!

Carlos Cecconello/Folhapress
Vice-presidente do São Paulo, Ataíde Gil Guerreiro, cobrou Muricy Ramalho durante a pré-temporada
Vice-presidente do São Paulo, Ataíde Gil Guerreiro, cobrou Muricy Ramalho durante a pré-temporada

Durante a pré-temporada deste ano, Ataíde Gil Guerreiro, vice-presidente de futebol, deu uma entrevista polêmica, cobrando o treinador publicamente. Chegou a declarar que não aceitaria ouvir reclamações de Muricy sobre o elenco montado para a disputa dos torneios em 2015. E que atendeu tudo que o técnico solicitou.

"Sentamos para conversar, mostrei o calendário e os momentos em que duas competições vão coincidir. Primeiro, será o Paulista com a Libertadores. Depois, a Libertadores com o Brasileiro. No segundo semestre, será a vez do Brasileiro com a Copa do Brasil. Disse que montei elenco para isso e que não aceitaria mais reclamações", disse Guerreiro.

Dívida de Muricy

Cinco dias antes do início do Campeonato Paulista, foi a vez de Aidar fazer fortes cobranças ao treinador via imprensa. O presidente chegou a falar que Muricy estava devendo um título ao São Paulo e que também não aceitaria mais cobranças feitas à diretoria.

"Ele tem contrato até dezembro de 2015. Nós vamos ser campeões com ele. Está devendo essa para gente. Nós montamos o time que ele quis. Ainda quer um jogadoriznho, mas com o que ele tem agora ele precisa ganhar. Quem vai cobrar publicamente dele sou eu. Não é mais ele quem cobra da diretoria", disse Aidar.

Banco recheado

Rivaldo Gomes/Folhapress
Muricy Ramalho e Luís Fabiano durante treinamento do São Paulo
Muricy Ramalho e Luís Fabiano durante treinamento do São Paulo

Durante a apresentação do argentino Centurión, Ataíde Gil Guerreiro chegou a dizer que Muricy teria de mostrar qualidade para administrar o banco do São Paulo, uma vez que o elenco tinha muitos jogadores de qualidade para disputar a posição. A declaração não repercutiu bem.

"Acho o Muricy o melhor técnico do Brasil, mas agora ele tem de mostrar que é bom administrador de banco. Hoje o São Paulo está com o elenco equilibrado, jovem. A pior coisa que existe é jogador descontente, mas tenho certeza que ele saberá administrar. Porque o elenco, na minha opinião, é o melhor do futebol brasileiro", disse Guerreiro.

Pressão sem igual

Julia Chequer/Folhapress
Muricy durante partida do São Paulo no Campeonato Paulista
Muricy durante partida do São Paulo no Campeonato Paulista

Muricy Ramalho rebateu no dia seguinte as declarações da diretoria, mas sem citar nomes. Demonstrou muita irritação quando foi questionado sobre a cobrança do presidente Aidar e sobre a declaração de Ataíde Gil Guerreiro sobre ter de administrar o banco do São Paulo

"Já vi de tudo no futebol, mas você se pressionar nunca tinha visto. A gente está se pressionando. Não é a torcida. Isso não ajuda em nada, não agrega em nada. Fomos vice do Campeonato Brasileiro e aí tem essa cobrança. Uma declaração que não é legal influencia [o ambiente]. A gente tem de ter cuidado quando fala", disse.

"Estou há 40 anos na profissão e esse é meu forte [administrar elenco]. Vocês tinham de ver como estava o São Paulo há um ano e meio. Era um desastre. Hoje funciona tudo como um relógio, disciplina, postura. Não precisa nem de concentração. Ninguém tem de falar o que eu tenho de fazer. O que eu tenho de melhor como técnico é o ambiente."

Rachou?

Eduardo Anizelli/Folhapress
Carlos Miguel Aidar dá entrevista coletiva no São Paulo
Carlos Miguel Aidar dá entrevista coletiva no São Paulo

Após a vitória do São Paulo por 1 a 0 sobre o São Bento pelo Paulista, jogo marcado por protestos da torcida e uma péssima atuação do time, Muricy ligou a instabilidade do time a uma "divisão interna" existente dentro do clube. De acordo com o treinador, há um racha no São Paulo, o que acaba prejudicando o ambiente da equipe.

"No ano passado, aqui era um lugar praticamente blindado, mas agora está muito aberto. Jogador nosso precisa de tranquilidade", disse. "Essa pressão é principalmente para mim, um cara que não chega. Tem que ter um pouco de coragem, tem que ser forte para chegar e me peitar. Aconteceram fatos nesse ano que não são como no ano passado."

Fica aqui, Muricy

Nesta sexta-feira (13), o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar emitiu uma nota para declarar apoio a Muricy Ramalho. Disse que o técnico continuará no comando do clube até o fim do contrato, isto é, 31 de dezembro deste ano. Ainda ressaltou que pensa em renovar o vínculo.

"O São Paulo Futebol Clube, por meio de sua Presidência e da unanimidade de sua Diretoria, diante de informações, entrevistas, notícias e interpretações distorcidas e contraditórias, provenientes de diversas fontes, vem comunicar que o Sr. Muricy Ramalho é e continuará sendo o treinador da equipe principal de futebol profissional até o término de seu contrato de trabalho e, se o desejar, terá vínculo profissional renovador oportunamente. Muricy tem relevantes serviços prestados ao clube, sendo desnecessário estar a todo instante repetindo-os, e certamente ainda haverá de produzir muito mais em benefício a Nação Tricolor", escreveu o dirigente.


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