Folha de S. Paulo


Juntas, grandes produtoras de carne e leite poluem mais que a Alemanha

Eduardo Anizelli/Folhapress

Por trás das caras inocentes do bife no almoço e do leite no café da manhã está uma cadeia produtiva responsável por uma boa parcela das emissões de gases causadores das mudanças climáticas.

Apenas três produtoras de carne -JBS, Cargill e Tyson- emitiram mais gases-estufa em 2016 do que toda a França e quase tanto quanto algumas das maiores companhias de petróleo, segundo um novo estudo lançado no início das principais negociações climáticas da ONU em Bonn, Alemanha -o maior emissor de carbono da Europa.

Ainda assim, o país que está recebendo a COP-23 emite menos do que as 20 maiores empresas de carne e laticínios do mundo. A maior delas é a brasileira JBS.

A criação de gado no Brasil está intimamente ligada ao desmatamento e às emissões de carbono, já que 65% da área desmatada na Amazônia é ocupada por pastagens, conforme os dados do Imazon, ONG que monitora desmatamento.

"Além da grande área utilizada para a produção de gado, boa parte da área utilizada para agricultura é também destinada à produção de grãos para ração animal", ressalta Cristiane Mazzetti, especialista do Greenpeace sobre Amazônia e desmatamento.

Para ela, a solução para diminuir o impacto da atividade no clima passa pelo rastreamento e pelo controle das cadeias produtivas.

COP23

O autor do estudo, porém, lembra que as emissões da JBS ultrapassam o território brasileiro, com uma produção global. E o problema estaria justamente aí. Devlin Kuyek, da ONG Grain, defende priorizar um modelo de negócio local como saída para o setor.

"As grandes empresas globais estão altamente subsidiadas em um punhado de países onde esses produtos já são super consumidos. Eles exportam seus excedentes em produtos processados e menos saudáveis para o resto do mundo, erodindo milhões de pequenos agricultores que poderiam garantir a segurança alimentar dos seus povos."

As emissões do setor de carne e laticínios são calculadas pelo IPCC (Painel Intergovernamental da ONU para Mudanças Climáticas), junto a emissões relacionadas a um grupo maior -agricultura, florestas e mudança do uso da terra.

Apenas o setor da pecuária pode ser responsabilizado por 15% das emissões de gases-estufa do mundo. "Se fosse um país, seria o 7º maior emissor", compara Kuyek. Procurada para comentar o estudo, a Associação Brasileira de Frigoríficos preferiu não responder.

A JBS afirmou desconhecer o estudo e a metodologia utilizada. A companhia informa que "calcula suas emissões globais desde 2012, utilizando levantamentos internacionalmente reconhecidos, como GHG Protocol, IPCC, entre outros, e essas análises indicam emissão de gases de feito estufa 34 vezes menor do que a apresentada pelo estudo citado".

"Além disso", prossegue a empresa, "anualmente reporta seus resultados por meio de relatórios públicos, como as Plataformas GHG Protocol Brasil, CDP Climate Change, Índice ICO2 da BM&F Bovespa (G3) e o próprio Relatório Anual e de Sustentabilidade da JBS".

Para chegar aos números do ranking, a pesquisa usa a estimativa da FAO (Organização da ONU para Agricultura e Alimentação) sobre as emissões da produção de carne em cada região do mundo e a multiplica pela quantidade de carne e laticínios produzida anualmente no mundo.


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