Folha de S. Paulo


No G7, EUA se afastam ainda mais de compromissos do Acordo de Paris

Pau Barrena/AFP
Prefeitura de Barcelona é iluminada de verde em protesto à saída dos EUA do Acordo de Paris
Prefeitura de Barcelona é iluminada de verde em protesto à saída dos EUA do Acordo de Paris

Os Estados Unidos confirmaram nesta segunda-feira (12) suas divergências climáticas com os demais países do G7, ao se negarem a apoiar um texto que reafirma a "irreversibilidade" do Acordo de Paris.

Os ministros de ambiente do G7, o grupo de potências econômicas formado por Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão, se reuniram no domingo e na segunda-feira na cidade italiana de Bolonha.

Ao final do encontro, todos os países, com exceção dos Estados Unidos, assinaram uma declaração comum na qual reafirmaram seu compromisso em aplicar o Acordo de Paris, cujo objetivo é proteger o clima reduzindo as emissões de gases do efeito estufa.

Scott Pruitt, diretor da Agência de Proteção Ambiental americana (EPA), não assinou essa parte do texto, em função da decisão do presidente Donald Trump de retirar o país do Acordo de Paris assinado na capital francesa em 2015.

"Retomamos o diálogo [com os países do G7] para dizer que Paris não é o único meio para avançar", disse Pruitt em um comunicado difundido nesta segunda-feira.

Os outros seis países do G7 e a União Europeia discordam dessa posição e, por isso, confirmaram sua intenção de aplicar o acordo sobre o clima.

Na segunda-feira, a diretora-executiva internacional da ONG Greenpeace, Jennifer Morgan, elogiou a "liderança" do "G6" na cúpula de Bolonha e encorajou os países a concretizarem suas ambições durante a próxima reunião do G20, que será realizada em julho na Alemanha.

Embora a decisão americana de se retirar do acordo sobre o clima seja um problema, sobretudo em relação ao financiamento prometido aos países mais afetados pelo aquecimento global, esta não é catastrófica, assegurou nesta segunda-feira o ministro francês do ambiente, Nicolas Hulot.

TRANSIÇÃO IRREVERSÍVEL

Os Estados Unidos colaboram em outras questões e, de toda forma, a transição energética para uma economia mais verde é "irreversível", acrescentou Hulot.

Nesse contexto, a França quer acelerar sua luta contra as mudanças climáticas, afirmou Hulot.

"Vamos aumentar, provavelmente, nossos objetivos de redução de emissões de gases de efeito estufa. Ou pelo menos acelerar" sua implementação, disse.

O responsável pelo programa ambiental da ONU, Erik Solheim, referiu-se aos benefícios econômicos que a transição energética pode trazer.

"O setor privado, as grandes empresas, inclusive nos Estados Unidos, dizem que apoiam uma ação. Há um grande número de novos empregos na economia sustentável e verde, há muito dinheiro a se ganhar, muito mais do que com os carburantes fósseis", afirmou.

A questão do clima quebrou a unidade do G7, pela primeira vez em sua história, no final de maio, durante a cúpula de seus líderes na cidade siciliana de Taormina, com um Donald Trump pouco disposto a se deixar influenciar pelos demais.

Dias depois, o presidente americano anunciou a retirada do país do Acordo de Paris, alegando que este era prejudicial para a economia nacional e generoso demais com outros países, como a Índia e a China.

Durante toda a semana em Bolonha, multiplicaram-se as iniciativas da sociedade civil para conscientizar sobre a necessidade de defender o clima e promover um crescimento econômico sustentável.

No domingo à tarde, cerca de mil estudantes marcharam pacificamente pelo centro da cidade italiana, sob a vigilância de centenas de policiais.


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