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Tratamento de águas residuais é crucial frente à escassez, diz ONU

Raquel Cunha/Folhapress
A ONU prevê que em 2030 a demanda mundial será superior em 40% às provisões naturais
A ONU prevê que em 2030 a demanda mundial será superior em 40% às provisões naturais

O tratamento de águas residuais é crucial para proteger a saúde e o ambiente e também para fazer frente à escassez do líquido, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira (22) pela ONU por ocasião do Dia Mundial da Água.

"As águas residuais representam um recurso muito valioso, devido à disponibilidade limitada de água doce no mundo e à demanda em alta", afirma Guy Rider, responsável da ONU-Água, por ocasião do Dia Mundial da Água.

Durante décadas, a humanidade consumiu água a um ritmo mais rápido que sua produção natural, contribuindo em algumas regiões para a fome, as doenças, a migração e até os conflitos.

Se não houver uma mudança de atitude, a ONU prevê que em 2030 a demanda mundial será superior em 40% às provisões naturais.

Dois terços da humanidade vivem em zonas onde a escassez de água é patente por ao menos um mês do ano. A metade delas vivem na China e na Índia.

Mais de 800.000 pessoas morrem todos os anos pelo consumo de água contaminada ou porque não podem lavar as mãos devidamente.

As doenças relacionadas à água matam 3,5 milhões de pessoas anualmente na América Latina, África e Ásia, um dado superior à soma das mortes por Aids e acidentes de carro.

E o aquecimento global, que agrava a seca, prosseguirá, mesmo nos melhores cenários.

"Há uma necessidade absoluta de aumentar a segurança hídrica para superar os desafios representados pelas mudanças climáticas e pela influência do homem", disse Benedito Braga, diretor do Conselho Mundial da Água, que reúne governos, associações e centros de investigação.

AMÉRICA LATINA

As águas residuais procedentes da agricultura, da indústria e das zonas urbanas nos países em desenvolvimento são uma das principais causas do problema.

Os países mais ricos tratam 70% das águas residuais que geram, um dado que cai a 38% nas nações de renda média e a 8% entre as mais pobres, segundo o relatório publicado pela ONU-Água e pela Unesco.

No mundo, 80% das águas não são tratadas, uma média que também corresponde à América Latina e ao Caribe (entre 70% e 80%) para as águas recuperadas das redes do esgoto urbano, principal fonte de contaminação hídrica.

No entanto, alguns países estenderam consideravelmente o tratamento das águas residuais urbanas e Brasil, México e Uruguai reciclam mais da metade do total, enquanto o tratamento no Chile é quase universal, indica o estudo.

O relatório estima paralelamente que a região deveria investir mais de 33 bilhões de dólares para que o tratamento de águas residuais se elevasse a 64% em 2030.

ÁGUAS REUTILIZADAS

Para o redator-chefe do documento, Richard Connor, é essencial levar em conta que "o tratamento de águas residuais gera novas fontes de água".

Nos Estados Unidos, a água de alguns rios é reutilizada até 20 vezes antes de chegar ao mar.

"Na Estação Espacial Internacional, a água para se lavar e beber e a que procede da urina é a mesma há anos!", afirma Connor.

Em maior escala, é possível fazer com que a água volte a se tornar potável: a capital da Namíbia, Windhoek, trata 35% de suas águas residuais para voltar a alimentar as reservas de água potável e os habitantes de Cingapura e San Diego, na Califórnia, bebem água reciclada.

Mas o objetivo principal e o mais facilmente alcançável é que a água tratada seja utilizada na agricultura, que representa 70% da demanda mundial deste recurso.

A Jordânia foi um precursor desde o fim dos anos 1970 (90% das águas tratadas estão destinadas à agricultura), enquanto outros países árabes começam a trabalhar neste sentido. Israel conta, por sua vez, com quase 50% de terras cultivadas irrigadas com água reciclada.

Com apenas 10% das terras irrigadas no mundo desta forma, a margem de progressão é enorme, segundo o estudo.


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