Folha de S. Paulo


ONG registra aumento em taxas de desmatamento na Amazônia

Dados do Imazon reforçam a hipótese de que o desmatamento na Amazônia tenha voltado a aumentar no período 2014-15 (agosto a julho). Seu sistema independente de alerta (SAD), menos preciso que o do governo, registrou um salto de 63%.

Segundo dados obtidos em primeira mão pela Folha do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, de Belém, foram 3.322 km2, contra 2.044 km2 no período anterior. Não é possível extrapolar o percentual de 63%, contudo, para a taxa oficial de devastação.

Esta é calculada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), cujo sistema Prodes emprega imagens de satélite mais detalhadas. O dado governamental foi recentemente consolidado, mas para o período anterior (2013-14). A cifra divulgada em novembro (4.848 km2) passou para 5.012 km2.

DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA LEGAL - Em km²

O Planalto anunciou de novo a notícia de redução na taxa de desmate (corrigida de 18% para 15%) poucos dias antes da chegada ao país da chanceler alemã Angela Merkel, mas a boa nova não era nova. A aguardada taxa oficial do "ano fiscal" do desmatamento, concluído no mês passado, só sairá em novembro.

Em 30 de novembro deste ano se inicia a Conferência de Paris sobre mudança do clima. O desflorestamento continua produzindo um terço das emissões nacionais de gases-estufa, e uma elevação no desmate tirará brilho do principal trunfo da delegação brasileira (a diminuição de cerca de 80% na última década).

PRODES 2015

O leitor que ainda não estiver confuso com os vários percentuais e quilometragens terá notado uma diferença de quase 3.000 km2 entre as áreas apuradas pelo SAD e pelo Prodes em 2013-14 (respectivamente 2.044 km2 e 5.012 km2).

A discrepância decorre, em grande medida, da minúcia das fotos de satélite utilizadas pelos dois sistemas de monitoramento.

Mapa do desmatamento por cidades

O Prodes, do Inpe, emprega imagens de satélites da classe Landsat, que enxergam detalhes de 20 a 30 m, mas só passam sobre o mesmo ponto na Terra em intervalos de 16 dias. O SAD usa as do sensor Modis, com as quais alcança resolução bem pior, de 250 m, porém com um período de 1,5 dia.

Carlos Souza Jr., responsável pelo SAD no Imazon, acredita ter acumulado já uma série histórica longa o bastante (2006-2014) para estabelecer um valor estatisticamente confiável para o desvio SAD-Prodes. Em média, ele é de 3.600 km2 a cada ano.

Usar o dado do SAD para estimar o próximo do Prodes, entretanto, não é trivial. No ano passado, o Imazon havia projetado um total de 5.644 km2, e o Inpe fechou o dado em 5.012 km2.

"Superestimamos [a cifra] em 12%", diz Souza Jr. "Não é um número ruim."

Para este ano, acredita que o total de derrubadas, incluindo o que o SAD não enxerga, deve ficar entre 5.000 km2 e 6.000 km2 –sem nova queda, portanto. "A mensagem mais importante é que o desmatamento estacionou nos 5.000 km2."

NAS NUVENS

Curiosamente, o SAD detectou também a existência de áreas desmatadas que não aparecem no Prodes. Comparando os polígonos de terra nua, sobraram 442 km2 nos mapas do Imazon sem superposição com os do Inpe.

A primeira explicação possível para essa outra divergência está nas nuvens. Como há muito mais imagens disponíveis do Modis, o Imazon pode escolher mais fotografias livres delas.

Outra hipótese é que, por essa razão ou outra, o Inpe tenha usado muitas imagens de meses anteriores –maio, por exemplo– ao início da estação de derrubada, com a diminuição de chuvas a partir de julho. Alguns desmatamentos podem ficar de fora num ano, mas aparecerão nos seguintes.

Uma terceira possibilidade é a própria deficiência da dupla SAD/Modis. Como as imagens têm resolução pior, os perímetros dos polígonos podem ser "arredondados" para cima, e essas superfícies artificialmente acrescentadas a eles acabariam subtraídas nas fotografias mais acuradas do Landsat.

Isso tudo impede fazer uma extrapolação linear do SAD para o Prodes. Mesmo assim, 63% de aumento no dado do Imazon parece razão suficiente para alarme.

"Está havendo pouco esforço para baixar [do patamar de 5.000 km2]", afirma Souza Jr. "Isso dá quase um campo de futebol por minuto."


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