Folha de S. Paulo


Emissões chinesas de carbono estão 'dois Brasis' superestimadas

A China acaba de se tornar um país que emite um pouco menos de gases-estufa, segundo um estudo publicado nesta quarta (19) na revista científica "Nature".

Pesquisadores de instituições chinesas, americanas e europeias atualizaram a maneira de se medir a produção de CO2 para a atmosfera na queima de combustíveis fósseis, como o carvão, e na produção de cimento.

O estudo propõe uma "redução" das emissões chinesas de CO2 na ordem de 1,1 bilhão de toneladas (ou 1,1 gigatonelada) em 2013 –mais de dois "Brasis" em emissões dentro da mesma categoria, ou 14% das emissões chinesas estimadas anteriormente pela base Edgar (Emissions Database for Global Atmospheric Research), utilizada como uma referência internacional.

No entanto a China, mesmo com a correção, lidera o ranking dos causadores do efeito-estufa com folga sobre o segundo colocado, os EUA.

A redução proposta pelos cientistas nas emissões chinesas se dá a partir de uma análise mais detalhada de fatores como a quantidade de carvão de fato utilizada pelos usinas termelétricas do país e o potencial de liberação de CO2 a partir da sua queima.

Ou seja, os cientistas substituíram estimativas mais gerais, realizadas por modelos matemáticos, por medições mais concretas registradas em observações de campo.

Segundo o climatologista e atual presidente da Capes (órgão do governo federal ligado à educação superior) Carlos Nobre, é normal nesse campo de pesquisa que medidas realizadas em campo corrijam, aumentando ou diminuindo, as estimativas de emissões.

Ele diz conhecer alguns dos autores e confiar na qualidade do estudo. Nobre acha que ainda há muito a avançar na medição de emissões de gases-estufa.

"Existir variação dos fatores de emissão entre as tabelas significa que o buraco é mais embaixo: as incertezas são maiores que o imaginado e precisamos avançar também na mensuração", afirma o pesquisador.

A superestimativa das emissões chinesas, agora relatada pelos pesquisadores, significa na prática uma redução do CO2 emitido entre 2000 e 2013 equivalente a 9,7 gigatoneladas de CO2. Esse valor é aproximadamente o que o país emite anualmente hoje em dia.

Editoria de Arte/Folhapress
Emissões de CO2 pelo mundo

Para Tasso de Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito-Estufa do Observatório do Clima, a redução da estimativa de emissões chinesa não muda o prognóstico ruim para a China. O quantidade de gases liberados na atmosfera pelo país deve continuar crescimento rapidamente.

A meta do governo chinês é atingir o pico das emissões em 2030, passando a reduzi-las daí em diante.

BRASIL

Na ausência de medidas precisas que reflitam cada realidade nacional, o IPCC categoriza os dados em diferentes níveis de confiabilidade.

O primeiro grupo de dados é reconhecidamente uma estimativa grosseira. O segundo é um pouco melhor, e leva em conta particularidades nacionais. O terceiro grupo é o mais preciso.

No Brasil, explica Azevedo, a maior parte das medidas está no segundo nível. Segundo Nobre, existem diversos estudos publicados e em andamento para atualizar as medidas nacionais.

O próximo relatório de emissões do governo brasileiro incorporou fatores de emissão mais precisos obtidos em estudos nacionais, conta Nobre, que coordenou o documento. "Você não pode gerenciar aquilo que não consegue medir", avalia.

A liberação do material depende agora do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, onde atuava até fevereiro de 2015.


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