Folha de S. Paulo


Proteção a bisões divide poloneses

As duas criaturas enormes fizeram uma pausa em sua alimentação ruidosa, em silhueta contra os pinheiros finos na outra margem de um riacho, e emitiram alguns bufos de trem a vapor.

"Acho que estamos perto o suficiente", disse Michal Krzysiak, membro da equipe que supervisiona o rebanho de bisões europeus do Parque Nacional Bialowieza, na Polônia, e é seu único veterinário.

Os dois bisões estão entre os 1.500 que vivem em Bialowieza, a maior concentração da variedade europeia no mundo.

Segundo Krzysiak, 34, no início os moradores das aldeias próximas temiam o bisão e o impacto em suas propriedades. Agora as pessoas os chamam de "nosso bisão".

Piotr Otawski, vice-ministro do Meio Ambiente da Polônia, propôs novos regulamentos para proteger e aumentar os rebanhos de bisões do país.

No entanto, muitos agricultores os consideram um perigo para suas plantações. As autoridades que supervisionam as florestas nacionais nem sempre aceitam a ideia de mais bisões livres na natureza. Além disso, alguns interesses comerciais temem que o excesso de novas regras ambientais prejudique a expansão econômica do país.

Mesmo os que apoiam a proteção do bisão não concordam.

Alguns cientistas avaliam que há muitos deles em certos lugares e são contra os regulamentos do governo que proíbem o abate seletivo. Outros cientistas dizem que o problema é o excesso de interferência humana em seu cuidado.

Bialowieza, na fronteira da Belorus, a 225 quilômetros a leste de Varsóvia, é um dos últimos trechos das florestas virgens que cobriam o norte da Europa, e o maior, com 1.500 km2.

O parque abriga alces, lobos, linces, castores, ursos e uma variedade de aves.

Protegidos em reservas de caça reais, das quais Bialowieza é um exemplo que sobreviveu, primeiro pelos reis da Polônia e depois pelos czares, os animais foram caçados para alimentação em todas as guerras e recuaram para o interior da floresta, até que o último exemplar livre foi morto por um caçador em 1919 aqui em Bialowieza.

O bisão só sobreviveu em zoológicos em Berlim e outros lugares da Europa Central.

Porém, em 1951, o governo comunista da Polônia começou uma campanha para recuperar a espécie e reintroduzi-la nas florestas das fronteiras da Polônia.

Hoje, mais de 5.000 bisões vivem em cativeiro ou em rebanhos selvagens em Bialowieza, espalhados por algumas outras áreas do país e reunidos em número menor na França, Alemanha, Holanda, Romênia, Ucrânia e em outros países.

"Queremos ter 10 mil na Europa", disse Krzysiak. "Esse é o número mínimo, a nosso ver, para que a população seja considerada segura e protegida."

No entanto, Wanda Olech-Piasecka, professora no departamento de genética animal na Universidade de Ciências da Vida em Varsóvia, disse que o rebanho de Bialowieza cresceu demais para o parque. A cada inverno, ele se desloca mais para fora dos limites do parque e entra nas fazendas vizinhas.

Dos 1.500 bisões que há no parque, mil vagam livremente e cerca de 500 estão em cativeiro.

O governo paga por qualquer prejuízo que os animais causem a propriedades privadas, disse Krzysiak.

"É compreensível que as pessoas tenham medo dos danos que esses animais podem causar", disse Andrzek Sitowski, 74, agricultor aposentado que se mudou para Lublin. "Eles são grandes e não são calmos como as vacas." E acrescentou: "Mas são animais magníficos".


Endereço da página: