Folha de S. Paulo


Com passos pequenos, energia solar cresce à margem de incentivos oficiais

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No Brasil, o uso do potencial solar para gerar energia elétrica ainda é pequeno, mas tem dado passos importantes.

A possibilidade de qualquer um ter painel solar para abastecer a própria casa foi aberta com a resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que em 2012 regulamentou a micro e a minigeração de energia no Brasil. O que antes era um "gato" agora é uma ação prevista legalmente, que permite compensar o que foi gerado na conta de luz.

Desde a criação da norma, as instalações de painéis cresceram mais de 670% em dois anos: hoje, há cerca de 580 sistemas operando no Brasil. Em 2013, eram 75. A previsão da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar) é de que, até o fim do ano, eles cheguem a mil.

Para Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal, focado no desenvolvimento de energias alternativas para a América Latina, o impulso não é por causa do governo. "Os incentivos para o setor praticamente inexistem," reclama. "O maior deles são os reajustes tarifários que estão sendo feitos, que fazem as pessoas buscarem outras opções".

O gerador de energia doméstico também tem custo elevado. Um sistema fotovoltaico que supre as necessidades de uma família de quatro pessoas custa ao menos R$ 15 mil, e isso para regiões com alta incidência de sol, como o Nordeste.

Há quem pense em montar os próprios painéis solares sozinho, seguindo instruções encontradas na internet. Mas fazer isso, além de ser complicado, pode render ação judicial. Existem tanto normas de segurança quanto exigências legais para conectar a geração particular à rede elétrica nacional –então, o mais recomendado é contratar uma empresa especializada.

Rodrigo Sauaia, diretor-executivo da Absolar, diz que é possível tentar financiamento de bancos para a instalação e que dá para propor às empresas usar parte da conta de luz para ir parcelando a compra do sistema. De qualquer jeito, o valor total do gerador só vai se pagar num período médio de 7 a 12 anos.

"Não vale a pena pedir empréstimo para fazer a instalação," aconselha o professor Arno Krenzinger, chefe do Laboratório de Energia Solar da UFRGS. "Mas é algo que vai beneficiar quem tem um dinheiro que não vai usar na próxima década e está procurando onde investir".

TRANSFERÊNCIA

Um dos pontos positivos citados com mais frequência quando se fala em energia solar é sua adaptação ao meio urbano. "Tem um transtorno menor para se instalar, você tem que fazer menos modificações no ambiente do que quando vai construir uma usina eólica ou hídrica," aponta o professor Krenzinger.

"A energia excedente é muito versátil," resume Mauro Passos. "Você pode, por exemplo, gerar energia na sua fazenda no interior e transferi-la para o seu escritório na avenida Paulista."

Ele cita o caso do estádio de Pituaçu, em Salvador, que teve placas fotovoltaicas instaladas na cobertura, cuja energia era transferida para abastecer um prédio administrativo do governo da Bahia.

Aquela pequena arena, com capacidade para 25 mil pessoas, foi a inspiração para o que se fez em maior escala no Mineirão. O palco da tragédia do 7 a 1 não é só fonte de lamentos para os brasileiros: ele produz, com os painéis solares implantados no teto, energia suficiente para abastecer mil residências.

O projeto foi tocado pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), com estudo fornecido pelo Instituto Ideal. Ao custo de 12 milhões de reais, a usina joga toda a energia que produz na rede elétrica. Só 10% dela pertence contratualmente ao estádio (o que dá e sobra para suas necessidades).

"Foi uma ideia para dar visibilidade à energia solar," diz Alexandre Bueno, superintendente de tecnologia e alternativas energéticas da Cemig. Ele conta que foi buscar financiamento do banco alemão KSW, que pagou 80% da obra, para que o projeto fosse economicamente viável: o preço da energia na época chegava a 300 reais por kWh, muito alto comparado a outras alternativas.

Apesar do custo, não vêm faltando iniciativas do poder público para geração solar. O Estado de Pernambuco se tornará em novembro o primeiro a consumir esse tipo de energia em larga escala, com a construção de uma usina com capacidade de 11 MW (0,03% da demanda estadual).

Já em Búzios (RJ), foram instalados painéis solares em três escolas municipais. A ação vem permitindo redução de 30% na conta de luz, ou cerca de R$ 540 mensais. O projeto é da distribuidora Ampla, que ressalta a importância de se trazer a energia renovável para a realidade dos estudantes.

É certo que as próximas gerações terão que aprender cada vez mais a lidar com fontes energéticas limpas, como a solar. Em 2050, segundo pesquisa da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a participação da geração fotovoltaica na matriz brasileira será de 13% –um salto considerável, se pensarmos que a taxa atual é de apenas 0,01%.


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