Folha de S. Paulo


Crise energética faz empresas emitirem mais carbono no Brasil

A transição para a chamada economia de baixo carbono depende de inovação tecnológica e investimentos do setor privado. Aos governos, caberá fomentar políticas públicas que deem escala a essas soluções, além da retirada dos subsídios aos combustíveis fósseis, estimados em mais de US$ 5,3 trilhões em 2015, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Essas foram algumas das sugestões de grandes empresas que participaram do Business & Climate Summit 2015, encontro promovido pela Unesco em maio, em Paris, como uma prévia para a COP-21, a conferência do clima da ONU que ocorre em dezembro e reunirá 196 países.

"As empresas estão cientes de que têm um papel relevante nas negociações internacionais sobre clima. Hoje, a agenda corporativa está focada na precificação do carbono e nas oportunidades de negócio que virão desse movimento", afirma Mariana Nicolletti, coordenadora do programa Empresas pelo Clima do GVCes (Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas).

Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress

Na prática, isso significa que cedo ou tarde as atividades econômicas que emitem muito carbono ou que são dependentes de combustíveis fósseis como o carvão pagarão mais impostos e serão sobretaxadas. Isso já ocorre em países como Suécia, Japão, México, no Estado americano da Califórnia e em algumas províncias chinesas.

Muitas empresas enxergam riscos palpáveis aos negócios em decorrência das alterações climáticas.

A Beraca, fabricante de insumos para a indústria de cosméticos com base na biodiversidade brasileira, já se prepara para mudanças no fornecimento de matérias-primas. "Neste ano, a safra de vários produtos extrativistas ficou ameaçada porque o período chuvoso foi maior que de costume", diz Thiago Terada, gerente de responsabilidade social da empresa.

No Brasil, um grupo de 128 empresas vem monitorando sua pegada de carbono com a publicação de inventários de emissão de gases de efeito estufa na metodologia GHG Protocol, a mais usada.

Dessas, 36 fazem parte da plataforma Empresas pelo Clima, que tem o objetivo de engajar as empresas em outras ações de fomento à economia de baixo carbono.

Mas o envolvimento das empresas não tem sido suficiente para reduzir as emissões. Uma das razões é que, nos últimos anos, o Brasil tem acionado mais termelétricas a carvão para o suprimento de energia. Isso eleva a emissão de gases de efeito estufa e impacta diretamente a pegada de carbono das companhias, sobretudo no chamado "escopo 2" (emissões provenientes da energia elétrica adquiridas pelas empresas).

Entre as 128 corporações que monitoram suas emissões, houve aumento de 81% nas emissões de escopo 2 entre 2012 e 2013.


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