Folha de S. Paulo


Para reduzir casos de asma e filtrar a poluição, cidade de NY ganha árvores

Quem olha para fotos antigas das ruas de Nova York percebe que as casas têm uma qualidade estranhamente nítida, como se fizessem parte de um set de filme. Logo se percebe a razão: não se veem árvores nas imagens.

Se você voltar hoje ao mesmo bairro ou quarteirão retratado, é provável que encontre um cenário diferente. O vazio estará preenchido e suavizado por majestosos carvalhos, por plátanos ou por uma fila de pereiras ou bordos.

Don Hogan Charles/The New York Times
Rua do bairro Park Slope, no Brooklyn, em 1968
Rua do bairro Park Slope, no Brooklyn, em 1968

A cidade não parou de se adensar, ganhando construções e moradores. Novos edifícios bloqueiam a visão do céu e se espalham por espaços abertos. Nos últimos cem anos, a população cresceu 65%.

Mesmo assim, nos últimos 50, 75 ou cem anos, as partes mais construídas da cidade mais densa dos EUA ficaram mais verdes. Poderíamos descrever o processo como a arborização de Nova York.

Não há como comprovar essa afirmação. Não há censos confiáveis anteriores aos anos 1990 das árvores plantadas nas ruas. A população arbórea flutua: ondas de pragas, tempestades e espasmos fiscais municipais periodicamente raleiam a floresta urbana e enfraquecem os esforços da prefeitura para plantar mais árvores.

Mas a tendência de longo prazo parece ser inegavelmente de aumento das árvores, disse Matthew Stephens, diretor do departamento de parques encarregado do plantio de árvores nas ruas.

Jake Naughton/The New York Times
Rua do bairro Park Slope, no Brooklyn, atualmente
Rua do bairro Park Slope, no Brooklyn, atualmente

"A única prova que temos são fotos do passado", disse. "Há centenas de fotos que encontramos no decorrer do nosso trabalho -dos anos 1910, 1920, 1930-, e é raro ver uma árvore nelas."

Na ausência de estatísticas, vale a pena saber que no final dos anos 1930 a fotógrafa Berenice Abbott fez dezenas de fotos das ruas de Nova York, a maioria delas em Manhattan, para um livro intitulado "Changing New York".

Sessenta anos mais tarde, Douglas Levere seguiu os passos dela e fotografou as mesmas vistas. Há 24 imagens feitas em 1990 em que se veem mais árvores que as imagens de 1930, e nenhuma das imagens mais recentes mostram menos árvores que nos tempos de Abbott.

Nova York está na reta final de sua campanha Um Milhão de Árvores para Nova York, que inclui o plantio de 160 mil árvores em suas ruas. Mas a cidade percebeu a necessidade de suavizar seus ângulos duros com vegetação pelo menos desde a década de 1870, quando o departamento de parques lançou o primeiro chamado pela criação de um sistema de plantio de árvores nas ruas.

Robert Moses, que foi comissário de parques da cidade entre os anos 1930 e 1950, plantou muitos dos majestosos plátanos e carvalhos que hoje são parte da paisagem urbana nova-iorquina. Ele lembrou que a arborização de NY já sofreu reveses devido a pragas e problemas políticos.

Um plano ambicioso lançado em 1973 pelo então prefeito John V. Lindsay de plantar seis árvores em cada quadra para cada duas plantadas por moradores atolou quando as verbas da prefeitura se esgotaram. Recentemente, um programa pelo qual moradores podem solicitar uma árvore da prefeitura para plantar em sua rua vem arborizando muitos quarteirões.

Desde 1995, quando foi realizado o primeiro censo confiável sobre o assunto, a população de árvores nas ruas de Nova York subiu vertiginosamente e comprovadamente em 30%, tendo passado de 500 mil para 650 mil.

Desde que notou que a maioria de pedidos de novas árvores vinha de bairros nobres, o departamento de parques passou a visar bairros mais pobres em sua blitz de plantio. O departamento divulga que as árvores não apenas embelezam a paisagem urbana, mas também filtram a poluição, refrescam as ruas no verão e ajudam a reduzir a incidência de asma.


Endereço da página: