Folha de S. Paulo


No Texas, movimento pede que agricultores abandonem o arado

Gabe Brown fala com fervor quase evangelista sobre as práticas agrícolas de conservação do solo, um movimento que propõe não arar a terra e usar "adubos ecológicos", entre outros métodos de melhoria do solo.

Esses métodos de cultivo, que imitam a biologia da terra virgem, são capazes de revigorar terras degradadas, minimizar a erosão, incentivar o crescimento das plantas e aumentar a renda dos agricultores, segundo seus defensores. "A natureza pode se curar se lhe dermos essa chance", disse Brown.

Brandon Thibodeaux/The New York Times
No Texas, Terry McCalister usa culturas de cobertura como nabo
Terry McCalister, que cultiva 2.500 hectares no Texas usa culturas de cobertura como nabo

Ele contou que, mesmo durante secas e inundações, consegue manter a produção dos seus 2.000 hectares na Dakota do Norte sem usar fertilizantes nitrogenados nem fungicida –e mesmo assim sua produtividade é superior à média do condado, com menos mão de obra e custos mais baixos.

As práticas de conservação do solo estão ganhando adeptos num momento em que os agricultores precisam, cada vez mais, lidar com as variações climáticas extremas, a alta nos custos de produção, a escassez de mão de obra e o receio de que o governo regulamente a poluição agrícola.

Agricultores como Brown viajam pelo país contando suas histórias, e ONGs como a No-Till on the Plains ("planícies sem lavrar"), do Kansas, atraem milhares de entusiastas.

Estudos sugerem que o uso do plantio direto tem crescido acentuadamente na última década, sendo responsável por aproximadamente 35% da área plantada nos Estados Unidos.

Para alguns cultivos, a área com plantio direto quase dobrou nos últimos 15 anos. No caso da soja, por exemplo, saltou de 7 milhões de hectares em 1996 para 12 milhões em 2012. Segundo os levantamentos, o plantio das chamadas culturas de cobertura –leguminosas e outras espécies que se revezam com as culturas mais rentáveis, mas que servem para cobrir o solo o ano todo e funcionam como um adubo verde– também cresce cerca de 30% ao ano.

Os agricultores lavram a terra a fim de prepará-la para a semeadura e revolver as ervas daninhas e resíduos da colheita anterior, enterrando-os. Isso também ajuda a misturar os fertilizantes e o estrume, além de amaciar a camada superior do solo.

Mas o uso repetido do arado cobra um preço. Ele degrada o solo, matando sua biologia, incluindo minhocas e fungos benéficos, e o deixa, como descreveu o agrônomo federal Ray Archuleta, "nu, com sede, com fome e com febre".

Um solo degradado exige aplicações pesadas de fertilizantes sintéticos. E, como sua estrutura se quebrou, a terra é facilmente arrastada em enxurradas, levando consigo nitrogênio e outros poluentes para rios e córregos.

Os partidários das técnicas de preservação do solo argumentam que, ao não arar a terra e ao usar culturas de cobertura, que funcionam como sorvedouros de nitrogênio e outros nutrientes, os produtores conseguem ampliar o volume de matéria orgânica em seu solo, tornando-o mais capaz de absorver e reter água. Cada aumento de 1% na matéria orgânica do solo ajuda a reter 30 mil litros de água por hectare, segundo Claire O'Connor, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais.

O solo mais absorvente se torna, por sua vez, menos vulnerável a enxurradas e mais resistente a secas e inundações. As culturas de cobertura também ajudam a eliminar ervas daninhas. Grupos ambientalistas como o Conselho de Defesa há muito tempo defendem as técnicas de conservação do solo porque elas ajudam a proteger as vias navegáveis e a aumentar a capacidade de armazenamento de dióxido de carbono no solo, em vez de liberá-lo para a atmosfera, onde contribui para a mudança climática.

Um estudo recente conduzido pelo Fundo de Defesa Ambiental sugeriu que o uso generalizado de práticas saudáveis para o solo ajudaria a reduzir em 30% a poluição por nitrogênio nas bacias do Alto Mississippi e do rio Ohio, contribuindo para diminuir a gigantesca "zona morta" de água sem oxigênio no golfo do México.

Mas o movimento também tem críticos, segundo os quais o plantio direto é impraticável e caro demais para muitos produtores, que precisam adquirir novos equipamentos.

Há também a percepção de que o controle de ervas daninhas fica mais complicado com o uso do plantio direto; que o método, ao reduzir a evaporação da água, cria limites sobre a partir de quando os cultivos podem ser plantados; e que é muito difícil lidar com os resíduos quando não se ara a terra.

Mesmo os agricultores que adotam o plantio direto e outros métodos de conservação do solo raramente o fazem por razões ambientais. A motivação é mais pragmática.

"Meu objetivo é melhorar a minha terra para que eu possa ter uma colheita melhor e ganhar mais dinheiro", disse Terry McAlister, que cultiva 2.500 hectares de algodão, trigo, feno, sorgo granífero e um pouco de canola no norte do Texas. Ele usa uma semeadora de plantio direto, guiada por GPS, que perfura os resíduos.

Ele atribuiu ao plantio direto o fato de ter obtido uma das suas maiores colheitas de trigo, em 2012, quando uma grave seca deixou agricultores de toda a região lutando para salvar a safra.

McAlister e outros praticantes do plantio direto disseram que a maior barreira para a expansão da prática talvez seja a mentalidade segundo a qual os agricultores precisam fazer as coisas do mesmo jeito que as gerações anteriores. "Temos um ditado na nossa região", disse ele. "Você não pode plantar direto porque ainda não enterrou seu pai."


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