Folha de S. Paulo


Crescem pedidos de quebra de sigilo de climatologistas dos EUA

A animosidade entre climatologistas e grupos que questionam a atribuição do aquecimento global às emissões de CO2 tem crescido, e uma nova guerra pelo controle da informação começa a ser travada nos bastidores, principalmente nos EUA.

Os métodos usados nesse embate, porém, são diferentes daquele usado às vésperas da Cúpula do Clima de Copenhague, em 2009, quando diversos cientistas tiveram e-mails roubados e vazados na internet.

Agora, céticos do clima usam pedidos formais, baseados em leis de acesso à informação, para tentar quebrar o sigilo de correspondência dos pesquisadores.

"Veremos uma escalada similar à medida que a Cúpula do Clima de Paris se aproxima, no fim de 2015", disse o climatologista Michael Mann, da Universidade do Estado da Pensilvânia, em palestra no encontro da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em San Jose.

Do encontro em Paris deve sair um novo acordo internacional para combater o aquecimento global, no lugar do Protocolo de Kyoto.

"Vai haver um esforço para confundir o público e os formuladores de politicas", afirmou Mann.

As petições que buscam quebrar o sigilo de e-mail e anotações de cientistas em geral alegam suspeita de fraude e se baseiam em leis de transparência de informações que garante acesso a documentos produzidos por funcionários de governo.

Segundo um novo relatório da ONG Union of Concerned Scientists, esse tipo de abordagem a climatologistas cresce desde 2010, quando o promotor Ken Cuccinelli intimou a Universidade da Virgínia a liberar e-mails e anotações de Mann, que trabalhou para a instituição.

O processo se estendeu por quatro anos e, mesmo com decisão favorável ao cientista, longas horas foram consumidas para discussões com a própria universidade –que ameaçava liberar os dados temendo ser punida.

Mann foi o único a travar uma disputa pública. Mas, segundo a AGU (União Americana de Geofísica), questionamentos do tipo têm se direcionado a cientistas de instituições como Nasa, NOAA (agência oceânica e atmosférica) e o Departamento de Energia. Alguns desistem de travar a batalha legal.

Steven Dyer, da Universidade Commonwealth da Virgínia, achou que passar mais de 100 horas compilando mensagens para responder a petições seria menos dispendioso e interrompeu seu período sábatico para fazê-lo.

Editoria de Arte/Folhapress

A entidade autora da petição –o centro de estudos conservador American Tradition Institute– passou então a exigir seus "livros de registro". Essa e outras entidades recebem verbas da indústria do petróleo.

"Eles acham que temos um livro onde os pós-graduandos relatam o que estão fazendo", diz Michael Helpern, autor do relatório da Union of Concerned Scientists.

Desde 2011, o congresso anual da AGU tem centro jurídico a disposição de cientistas de clima, que os orienta sobre como agir nesses casos.

"No último ano, tive muito trabalho", conta a advogada Lauren Kurtz. Ela dirige agora o Fundo para Defesa Legal da Ciência do Clima, que levanta recursos para atender a cientistas assediados.


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