Folha de S. Paulo


Ricos cedem, mas encontro do clima em Lima segue sob impasse

Mesmo com países ricos fazendo algumas concessões após o tempo regulamentar de negociações da Conferência do Clima da ONU em Lima, no Peru, nações em desenvolvimento não aceitaram um consenso para uma decisão final no encontro até a noite de sábado (13). O debate entrou no domingo.

O encontro no Peru é importante para delinear os elementos principais do próximo acordo global do clima, a ser assinado no fim do ano que vem em Paris.

Além disso deve estabelecer a maneira com que países vão comunicar suas intenções de cortes nacionais na emissão de gases de efeito-estufa no período pós-2030.

A princípio, os países ricos tentaram emplacar em Lima um texto que não fizesse referência ao conceito de "responsabilidades comuns, porém diferenciadas".

Tal ideia, que existe desde 1992, quando surgiu a Convenção do Clima da ONU, significa que as nações plenamente industrializadas devem assumir maior responsabilidade no corte de emissões.

Na madrugada de sexta para sábado, porém, uma nova versão do texto já colocava novamente a negociação sob a égide das regras de 1992.

Esse texto também previa que as contribuições nacionais de redução de emissões deverão ser anunciadas no primeiro trimestre de 2015.

Também nesse prazo, os países teriam de divulgar metas para adaptação à mudança climática –ou seja, dizer o que farão para lidar com a mudança climática que já é inevitável. Isso era outra demanda de nações em desenvolvimento.

Em julho, as contribuições anunciadas por todos os países serão reunidas em um estudo para avaliação, uma etapa essencial para o acordo a ser fechado em Paris, de forma que possam ser avaliadas.

Mas, mesmo com essas concessões, os países do bloco Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China) se opuseram à aprovação do novo documento.

"O esboço da decisão teve melhoras em relação a quinta-feira, mas ainda não está equilibrado", diz Liu Zhemin, negociador da China.

O embaixador Antonio Carvalho, negociador do Brasil, afirmou que é preciso que o documento final seja mais explícito ao dizer que a as responsabilidades diferenciadas são respeitadas.

O bloco dos países africanos, representados pelo Sudão, também rejeitou o documento, sobretudo pela ausência de referência a como tratar de "perdas e danos" -a compensação que países ricos devem dar a países que sofrem ou estão na iminência de sofrer impactos do aquecimento global, como tempestades e secas mais frequentes.

Representantes de algumas nações-ilhas, ameaçadas pelo aumento do nível do mar, foram a plenário citar esse esse problema, mas pediram a aprovação do texto. "Precisamos seguir em frente", afirmou o negociador das Ilhas Cook. "Acreditamos que podemos incluir a questão das perdas e danos mais tarde, no caminho para Paris."

Os EUA, que queriam a aprovação do texto, se mostraram frustrados.

Após às 13h de sábado, a plenária foi interrompida para que o presidente da COP 20 –o ministro de ambiente peruano, Manuel Pulgar-Vidal- começasse conversas mais informais para reescrever o texto. Os países do Basic estavam insatisfeitos com a liderança do peruano, pois esperavam que ele fizesse mais pressão pelos interesses dos países em desenvolvimento.

O brasileiro Carvalho, porém, afirmou que "pequenos ajustes cirúrgicos" no texto poderiam resolver o impasse. As mudanças de redação começaram a ser feitas, e uma nova plenária, possivelmente a última, foi convocada para as 21h (meia noite de sábado para domingo em Brasília). Nenhuma decisão havia saído até o fechamento desta edição.


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