Folha de S. Paulo


Esboço de acordo inclui opção de zerar emissões em 2050

Entre as diversas opções que ainda estão em aberto dentro do esboço para o novo acordo global do clima, com assinatura previsa para o fim do ano que vem, está a possibilidade de rumar para um cenário com emissões zero de CO2 em 2050.

Esse é um dos muitos cenários que surgiram entre as propostas delineadas no novo esboço, debatido em lima até a noite de segunda-feira (8) na Conferência para Mudança Climática da ONU, a COP 20, em Lima, no Peru.

Na manhã desta terça-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, não chegou a mencionar metas de emissão zero, mas pediu ambição aos negociadores presentes no encontro.

"Precisamos agir agora. Não há tempo para ficar remendando", disse. "Ainda há uma chance de permanecermos dentro do teto de aumento de 2°C acordado internacionalmente, mas a janela de oportunidade está se estreitando rapidamente."

Outros cenários continuam no esboço preliminar, inclusive a possibilidade de que cortes sejam feitos apenas em relação a um nível projetado de emissões para o futuro -a hipótese menos ambiciosa no menu até agora.

Não está claro se a meta mais ousada para o orçamento de carbono pode ser adotada pelos países, rejeitada, ou -o mais provável– ter sua decisão adiada para a COP 21, em dezembro de 2015, em Paris.

O trecho mais ousado do texto sendo debatido agora deixa em aberto a possibilidade de que as partes envolvidas no acordo tomem a forma de "um caminho de desenvolvimento sustentável com emissões zero no longo prazo".

Uma das opções para tal seria "consistente com a neutralidade de carbono/saldo de emissões zero em 2050". Outra opção seria reduzir as emissões em até 70% em 2050, e zerá-las até o fim do século -opção destacada pelos cientistas do IPCC (painel do clima da ONU).

O texto ainda não detalha quais gases de efeito estufa devem ser atacados. Apesar de o CO2 contribuir com 33 bilhões de toneladas de emissões hoje, há o equivalente a outros 17 bilhões na forma de metano, óxido nitroso e outros gases menos abundantes, mas que também contribuem para o aquecimento global.

Cientistas presentes na COP 20, porém, afirmam que a melhor chance de segurar a temperatura é zerar as emissões de CO2 entre 2050 e 2060, ainda que emissões de outros gases-estufa continuem em certa medida.

"Para ter uma chance provável de ficar sob os 2°C, as emissoes acumuladas de CO2 de 2011 para a frente não podem superar as 1.000 Gt (bilhões de toneladas)", afirma Malte Meinhausen, climatólogo da Universidade de Melbourne que analisou o texto na segunda-feira.

Esse número, diz é parte de um "orçamento de carbono" limitado, de cerca de 2.900 Gt de carbono que podem ser jogadas na atmosfera. Desde o início da era industrial, atividades humanas já jogaram 65% dessa cota na atmosfera.

Pela conta de Meinhausen, se traçarmos uma curva linear de redução de emissões a partir de já, seria preciso cortar o CO2 gradualmente até que ele caia a zero em 2060. Se o planeta continuar aumentando suas emissões conforme o previsto até 2020, esse prazo se encurta: seria preciso zerar emissões até 2050.

Centrar ações no CO2 e não em outros gases-estufa é importante, diz, porque este é o gás mais nocivo e mais abundante.

"O metano tem uma vida útil de 12 anos, e depois disso sai da atmosfera", explica Meinhausen. "O CO2 não tem uma vida finita definida, e não há nenhum processo no qual ele desaparece. A única coisa que acontece é ele ser absorvido pelo oceano."

Uma das metas da COP 20 é definir quais gases-estufa serão regulados pelo futuro acordo do clima, com vigência a partir de 2020, e como calcular suas emissões. As opções no esboço do documento ainda estão em aberto.


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