Folha de S. Paulo


Economista defende acordo do clima sem força de lei

Para o autor do mais importante trabalho já realizado sobre os impactos econômicos do aquecimento global, o próximo acordo para reduzir emissões de gases-estufa não precisa ter força de lei.

Nicholas Stern, professor da London School of Economics, lançou um novo relatório ontem em Lima, no Peru, durante a conferência da ONU para o clima, a COP 20.

O documento defende que um acordo sem previsão de sanções para quem não cumpri-lo permitirá aos grandes emissores serem mais ambiciosos em seus objetivos de cortes de emissões.

Stern foi autor do relatório que, em 2006, fez a primeira grande estimativa dos custos do aquecimento global. Deixar de lidar com o problema causaria perdas de 5% do PIB mundial por ano.

Falando ontem em Lima a uma plateia que misturava diplomatas, ambientalistas e economistas, Stern defendeu que essa lacuna financeira é ainda maior do que parecia ser oito anos atrás.

Stern ressaltou os problemas das emissões de carbono particulado, uma poluição tóxica que está associada aos gases de efeito estufa, principalmente quando há queima de carvão e diesel. O impacto econômico de mortes e problemas de saúde ligados a particulados, "cuja escala só agora está sendo estabelecida", é estimado em perdas anuais de 10% do PIB na China e 6% na Alemanha.

"No relatório de 2006, eu já havia dito que a emissão de gases de efeito estufa era resultado da maior falha de mercado da história", afirmou.

LENTO E GRADUAL

Em Lima, as negociações têm avançado lentamente. "Foi um começo com muita discussão de procedimento", disse Raphael Azeredo, diretor de meio ambiente do Itamaraty, um dos negociadores do Brasil no encontro.

Não houve nenhum avanço na questão que costuma ser impasse entre países ricos e pobres: a diferenciação entre quais nações devem ou não ter metas de mitigação (redução de emissão de gases de efeito estufa). Países desenvolvidos continuam propondo acabar com a diferenciação, o que países em desenvolvimento não aceitam.

A proposta brasileira, que define uma divisão mais gradual, porém, está gerando interesse por parte de outras delegações. Diplomatas do Brasil fizeram uma apresentação sobre a proposta para chefes de outras delegações. Um integrante da delegação brasileira disse já ter recebido um sinal positivo da China.

Outro impasse é que os países em desenvolvimento insistem que um acordo deve incluir promessas de ajuda a países pobres com financiamento, não só de corte de CO2.

"Se depender dos desenvolvidos, o acordo de Paris [com assinatura prevista para dezembro de 2015] será só sobre mitigação", diz Azeredo.


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