Folha de S. Paulo


Análise: Governo se aproveita da existência de dois sistemas

A queda de 18% no desmatamento da Amazônia no período 2013/2014, anunciada nesta quarta-feira (26), é uma dupla boa notícia. Além da redução em si, ela desfaz parte da nuvem de suspeita que pairava sobre a questão.

Durante o período eleitoral, o governo sonegou informações para evitar danos à candidatura Dilma Rousseff. Tratou de esconder os dados mensais do Deter, sistema que usa imagens de satélite para orientar ações de fiscalização do Ibama.

Ele é bem mais impreciso que o dado anual de outro sistema, o Prodes, agora divulgado. O governo está certo em dizer que o Deter não foi desenvolvido para medir desmatamento, mas, enquanto não saem os números anuais oficiais, sempre foram usados para indicar tendências.

O fato é que os números do Deter para os meses de agosto e setembro continuam escamoteados. Isso embora o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tenha prometido apresentá-los em conjunto com o Prodes, nesta quarta, o que não aconteceu (a promessa agora é fazê-lo ainda nesta semana).

A Folha, porém, revelou no último dia 8 que o desmatamento na Amazônia havia disparado nos meses que antecederam as eleições: 1.626 km² de florestas destruídas, com crescimento de 122% sobre os mesmos dois meses de 2013. O governo federal nunca confirmou nem negou essa informação.

Na realidade, o MMA se vale da existência de dois sistemas de monitoramento para dar a impressão de que eram erradas as informações de que a devastação estaria em alta no período eleitoral. Trata-se, contudo, de períodos diversos.

O número do Prodes é anual e cobre os 12 meses transcorridos de agosto de 2013 até julho deste ano. As cifras do Deter, que o governo ainda retém, são mensais e se referem aos meses imediatamente posteriores.

Aplica-se, mais uma vez, a máxima que manda faturar o que é bom e esconder o que é ruim. A então candidata Dilma Rousseff chegou a tuitar que o desmatamento estava em queda, o que deixa evidente que já tinha uma prévia do Prodes em mãos.

Se tivesse anunciado em setembro ambas as informações (Prodes e Deter), de que já dispunha na véspera da eleição, Dilma teria de admitir que o combate à devastação na Amazônia, apesar do sucesso obtido em 2013-2014, começou a temporada 2014-2015 fazendo água.

A prova dos nove virá daqui a um ano, com o próximo resultado do Prodes. Até lá, a ministra Izabella Teixeira (MMA) terá de contar com a provável ministra Kátia Abreu (Agricultura), pecuarista recém-convertida ao governo e ao PMDB, para manter o desmatamento sob controle.


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