Folha de S. Paulo


EUA e China anunciam acordo para reduzir emissão de gases poluentes

Após meses de negociações sigilosas, China e Estados Unidos alcançaram um compromisso sem precedentes com vistas a reduzir emissões de gases poluentes e energizar o esforço para concluir um acordo global sobre mudança climática em 2015.

O anúncio foi feito nesta quarta (12), na conclusão da visita à China do presidente americano, Barack Obama. Ao lado do líder chinês, Xi Jinping, Obama classificou o acordo como "histórico".

A China se comprometeu a atingir o ápice de suas emissões de CO2 no máximo até 2030, quando então elas deverão começar a cair. Para isso, o país pretende investir para que 20% de sua energia tenha origem em fontes não poluentes.

É a primeira vez que a China, país que mais polui no mundo, estabelece uma data para que suas emissões de CO2 parem de aumentar. Juntos, China e EUA são responsáveis por cerca de 45% do dióxido de carbono emitido em escala global.

Os EUA, por sua vez, assumem o compromisso de reduzir as emissões em 2025 entre 26% e 28% em relação a 2005. A nova meta é mais ambiciosa que a estabelecida anteriormente por Obama, de um corte de 17% até 2020.

Li Xueren/Xinhua
Presidentes da China, Xi Jinping, e EUA, Barack Obama, cumprimentam-se antes de anúncio de acordo para redução de emissão de gases
Xi e Obama se cumprimentam antes de anúncio de acordo para redução de emissão de gases poluentes

"Como as duas maiores economias e os maiores consumidores de energia e emissores de gases-estufa, temos uma responsabilidade especial de liderar o esforço global contra a mudança climática", disse Obama.

O anúncio permitiu um desfecho positivo para a visita de Obama à China, cercada por uma série de divergências e competição crescente entre as duas maiores economias do mundo. Ambos os líderes destacaram a importância do entendimento para encorajar outras grandes economias a chegar a um acordo ambicioso na Conferência sobre Mudança Climática, marcada para o próximo ano em Paris.

Para Xi Jinping, o compromisso assumido pelos dois países serve para "assegurar que as negociações internacionais sobre as alterações climáticas irão chegar a um acordo".

No mês passado, a União Europeia também anunciou suas metas, comprometendo-se a reduzir em 40% as emissões até 2030, em relação a 1990. O bloco europeu é responsável por 11% das emissões mundiais de CO2.

Apesar do otimismo demonstrado por Xi e Obama, os dois líderes terão que vencer resistências domésticas para cumprir as metas.

Nos EUA, as recentes eleições legislativas deram o controle do Senado ao opositor Partido Republicano, que também aumentou sua maioria na Câmara, tornando mais difícil a aprovação de projetos do governo.

As críticas vindas de Washington não tardaram. "Esse plano irrealista que o presidente empurrará para o seu sucessor garantiria taxas mais altas e menos emprego", atacou o líder republicano no Senado, Mitch McConnell.

A China tem obstáculos ainda maiores. Num momento de desaceleração econômica, o governo tenta implementar reformas para tornar seu crescimento mais sustentável, mas sem permitir uma queda brusca que crie desemprego em massa e instabilidade social. Embora seja o país que mais investe em energias renováveis, a China ainda luta para diminuir sua forte dependência do carvão. Mais barato do que outras fontes de energia, ele gera 65% da eletricidade usada no país, segundo as autoridades.

As metas anunciadas por Xi e Obama são importantes como um sinal de esforço conjunto, mas poderiam ser mais ambiciosos, disse Wang Tao, especialista em clima do Centro Carnegie-Tsinghua de Política Global.

"O compromisso do governo central com as metas ambientais é claro", disse à Folha. "O desafio é alinhar a preocupação de curto prazo com o crescimento econômico e a de longo prazo, que é preservar o meio ambiente".

Ele lembrou que as autoridades chinesas sofrem forte pressão doméstica por causa dos altos níveis de poluição nas grandes cidades.

Na última semana, o governo conseguiu melhorar drasticamente a qualidade do ar em Pequim, para não fazer feio diante dos líderes que participaram da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífica (Apec, na sigla em inglês). Centenas de fábricas foram temporariamente fechadas e um rodízio tirou metade dos carros das ruas. Mesmo assim a poluição subiu na última hora e o governo apelou para a censura, bloqueando em aplicativos de celular os índices da embaixada americana em Pequim.


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