Folha de S. Paulo


Castores voltam a ser bem-vindos nos EUA

Os castores, antes caçados em armadilhas e abatidos a tiros por serem considerados pragas, passaram a ser respeitados. Em todo o Oeste dos EUA, esses roedores agora são bem-vindos na paisagem, pois começaram a ser vistos como uma defesa contra os efeitos nocivos de um clima mais quente e seco.

Os diques dos castores, ao que parece, têm efeitos benéficos que não ocorrem facilmente de outras maneiras. Eles elevam o nível dos riachos, auxiliando o crescimento de árvores e plantas que estabilizam as margens e previnem a erosão. As barragens melhoram o habitat dos peixes e animais silvestres e estimulam a formação de um solo fértil.

Além disso, os diques dos castores fazem o que qualquer dique faz: bloqueiam a água.

Durante milênios, os castores -que eram dezenas de milhões na América do Norte- fizeram parte do sistema hidrológico. "Os vales estavam cheios de diques", disse Jeff Burrell, cientista da ONG Sociedade de Conservação da Vida Selvagem, em Bozeman, Montana.

Mas a população desses roedores despencou, principalmente devido à caça do animal em armadilhas para o uso da pele.

Por volta de 1930, não havia mais do que 100 mil castores, quase todos no Canadá. O número voltou a aumentar recentemente, e agora são estimados em 6 milhões.

Atualmente, a despeito das críticas ao enorme impacto ambiental das barragens humanas, os benefícios trazidos pelos diques dos castores estão sendo cada vez mais apreciados.

Esses roedores são engenheiros do ecossistema. Quando uma família chega a um novo território, os castores derrubam uma grande árvore sobre um riacho para construir um dique, o que cria uma lagoa para sua toca. Eles cobrem a entrada com galhos, lama e pedras. À medida que o nível da água sobe, a entrada da toca passa a ficar submersa, protegendo os castores contra predadores.

Esse acúmulo de água leva a uma série de alterações ecológicas. A lagoa nutre as árvores -importante alimento dos castores- e fornece refúgio para os peixes. O crescimento de arbustos em volta da lagoa melhora o habitat para pássaros, veados e alces.

Além disso, como os diques elevam os níveis da água no subsolo, eles aumentam o abastecimento e reduzem o custo de bombeá-la para agricultura.

A recuperação não se resume simplesmente a trazer os castores de volta. Caso não sejam controlados, esses roedores podem causar estragos. Em Butte, por exemplo, castores constantemente bloqueavam um riacho que corria por uma vala sob uma passarela de pedestres, inundando casas próximas e um parque.

Por isso, autoridades instalaram uma estrutura de madeira coberta com tela para bloquear o acesso dos castores à vala, sem interromper a vazão da água.

O ecologista Julian Olden, da Universidade de Washington, estudou lagoas de castores no Arizona e descobriu que eram perfeitas para que peixes invasivos, como carpa, bagre e achigã, deslocassem espécies nativas.
"Há muitas incógnitas antes que possamos dizer o que o retorno dos castores significa para esses ecossistemas", disse.


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