Folha de S. Paulo


Em viveiros com 362 aves, americana cuida de animais feridos e ameaçados

Drew Kelly - 29.ago.2014/The New York Times
Michele Raffin com Beakman e Shana, na sua casa que funciona como refúgio de pássaros na Californa
Michele Raffin com Beakman e Shana, na sua casa que funciona como abrigo de pássaros na Californa

A visão que Michele Raffin tem da vida, do amor e especialmente das aves mudou drasticamente desde o dia, quase 15 anos atrás, em que ela parou para salvar uma pomba ferida ao lado da estrada.

Era uma pomba branca, do tipo que frequentemente é solto em casamentos como símbolo do amor e da fidelidade -pois as pombas, como muitas aves, tendem a ter apenas um parceiro por toda a vida. E Raffin, ex-executiva do Vale do Silício sem experiência com aves, ficou fascinada.

Em pouco tempo, administradores de abrigos para aves e criadores particulares interessados em reduzir seus bandos ou encaminhar um papagaio com problemas começaram a cortejá-la. Raffin aceitava as aves mais impossíveis de adotar, dizendo: "Se eu não as receber, quem o fará?"

Todas voltavam para casa com ela: maravilhosos tentilhões tropicais e periquitos australianos que não conseguiam mais voar; grous africanos de aparência esdrúxula que dançavam e gritavam, e um papagaio amazônico de topete vermelho, vindo do México, que tinha o hábito de chamar os humanos de quem não gostava de um palavrão específico. O papagaio reservou o apelido para Tom Raffin, o marido de Michele, apesar de Tom sempre ter sido paciente e dado todo apoio à obsessão acidental de sua mulher.

Durante anos Raffin, que hoje tem 63 anos, fez o possível para devolver o bem-estar às aves que recebia. Depois disso, encontrava um par para cada uma delas.

Essa é a versão resumida da história de como 362 aves barulhentas de um total de 34 espécies, seis delas em perigo de extinção, acabaram vivendo e se reproduzindo na casa de Michele Raffin, uma história que ela relata em "The Birds of Pandemonium: Life Among the Exotic and the Endangered" (as aves do pandemônio: a vida entre exóticos e ameaçados), que vai sair este mês.

Enquanto seus vizinhos têm piscinas e quadras de tênis, Raffin tem 35 viveiros de aves, que ela chama conjuntamente de Pandemonium Aviaries.

"Vem cá mamãe bonita, vem cá mamãe bonita, te amo", gritou Shana, uma fêmea de papagaio da Amazônia de nuca amarela.

Drew Kelly - 29.ago.2014/The Grosby Group
Pássaros africanos, Grous-coroados ocidentais, abitam o abrigo de aves de Michele Raffin’s
Pássaros africanos, Grous-coroados ocidentais, habitam o abrigo de aves de Michele Raffin’

No livro, ela conta como se deu sua passagem de salvadora ingênua a criadora e conservacionista exímia. Um pombo-faisão de nuca verde tinha morrido inesperadamente, e sua companheira não parava de chorar. Quando tentou encontrar um companheiro para a fêmea, Raffin descobriu que várias das aves das quais cuidava, incluindo os pombos-faisões, tinham diminuído muito de número em consequência das mudanças climáticas.

Raffin então imprimiu um viés mais conservacionista a seus viveiros. Criou uma organização sem fins lucrativos, com conselho de diretores, assessoria científica e um orçamento na casa dos seis algarismos.

O viveiro recebe aves de alguns dos zoológicos mais respeitados dos Estados Unidos, para serem criados e cuidados de modo vitalício. O trabalho parece estar tendo bons resultados. Cinco membros do bando de 18 pombos-faisões de Raffin nasceram em seu viveiro.

Hoje em dia, Michele Raffin está se concentrando em cultivar sua vida pessoal. Isso significa descobrir como separar o trabalho do lazer, algo que é difícil quando há quase 400 aves constantemente precisando de mais uma refeição. Há pouco tempo, seu marido lhe revelou que era gay e queria levar uma vida mais autêntica, separado. Michele Raffin diz que foram as aves que a ajudaram a superar uma transição difícil. Uma coisa que a ensinaram, ela diz, é a importância de ter um parceiro.

E ela está aberta a sugestões nesse sentido.


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