Folha de S. Paulo


ONGs ambientalistas abandonam conferência do clima em Varsóvia

Em uma decisão sem precedentes nas conferências mundiais do clima, sete das principais ONGs ambientais do mundo --incluindo o Greenpeace e o WWF-- decidiram abandonar a o encontro deste ano, que acaba amanhã em Varsóvia.

Segundo as organizações, a falta de diálogo e de vontade política nas negociações da COP-19 impedia qualquer avanço. Então, decidiram se retirar.

Países começam a debater novo acordo climático em conferência da ONU

Cerca de duzentas pessoas se juntaram ao protesto e abandonaram simultaneamente a conferência. Antes da debandada, vários líderes de organizações discursaram sobre a decisão.

Janek Skarzynski/AFP
Integrantes de ONGs deixam a Conferência do Clima da ONU, em Varsóvia
Integrantes de ONGs deixam a Conferência do Clima da ONU, em Varsóvia

"O governo polonês fez o seu melhor para transformar essas conversas [na COP] em uma vitrine para a indústria do carvão. Junto com o retrocesso adotado pelo Japão, Austrália e Canadá, e da falta de liderança significativa de outros países, os governos aqui deram um tapa na cara daqueles que sofrem com os perigosos impactos das mudanças climáticas", disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace.

Segurando cartazes com frases de ordem e de protesto, os ambientalistas marcharam pelo Estádio Nacional de Varsóvia, onde acontece a COP, em fila única antes de abandonarem a conferência. Os manifestantes enfileirados chamaram a atenção das delegações. Alguns aplaudiram e disseram palavras de apoio.

"Chegamos a um ponto tão difícil, com as coisas tão empacadas, que não havia outra solução. Nós não estamos abandonando o movimento, apenas essa conferência, que chegou a uma situação insustentável", comentou André Nahur, da WWF-Brasil, que estava acompanhando as negociações.

A saída acontece após uma semana que os ambientalistas viram como retrocesso. O Japão anunciou que não irá cumprir suas metas de redução de emissões, os países ricos estão relutantes em destinar mais dinheiro para combater o aquecimento global e, na quarta de manhã, o presidente da COP-19, Marcin Korolec, perdeu seu emprego como ministro do Meio Ambiente.

Do lado de fora do estádio, em um ato simbólico, os ativistas ambientais "jogaram fora" suas credenciais para a conferência.

DIVERGÊNCIA

A decisão de abandonar as negociações não foi unanimidade. Nem entre os diversos grupos ambientalistas e nem entre as próprias ONGs que abandonaram as negociações.

Após a saída do estádio, alguns manifestantes discretamente evitaram entregar seus crachás. "Quero voltar amanhã, o ato foi mais uma coisa simbólica. Alguns de nós estarão aqui sim", disse uma ambientalista brasileira.

Lideranças das ONGs e observadores se retiraram das negociações, mas é possível que militantes estejam de volta para o último dia de negociações.

Liz Gallaguer, da organização EG3 (Ambientalismo de Terceira Geração), foi uma das pessoas que discordou do protesto.

"Eu entendo e me solidarizo muito com a sensação de impotência e inação deles, mas não concordo com o método escolhido", afirmou.

A jornalista GIULIANA MIRANDA viajou a convite da Deutsche Welle Akademie


Endereço da página:

Links no texto: