Folha de S. Paulo


Carvão apelidado de 'verde' pela indústria também polui, diz grupo de cientistas

Um grupo de 27 renomados especialistas em energia, incluindo dois brasileiros, lançou uma declaração conjunta em que nega a existência de um uso de carvão com alta eficiência energética e baixo índice de emissões, o que a indústria vem chamando de 'carvão verde'.

"Até a usina de carvão mais eficiente [do ponto de vista energético] é inaceitável para se manter o clima a salvo. Mesmo elas são duas vezes mais poluentes que as de gás e 15 vezes mais do que as renováveis", diz Bert Mertz, ex-vice-diretor do IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU) no lançamento do documento, que aconteceu paralelamente à 19ª conferência mundial do clima, que vai até sexta-feira (22) em Varsóvia.

A declaração dos cientistas é uma resposta a um comunicado divulgado pela WCA (Associação Mundial do Carvão), que realiza nesta semana seu encontro internacional também em Varsóvia, com apoio do país anfitrião, que tem mais de 80% de sua energia elétrica gerada com essa fonte de energia,

A associação da indústria carvoeira conclamou para "o uso imediato de tecnologias de combustão de carvão com alta eficiência e baixas emissões como um passo imediato para reduzir as emissões de gases-estufa". Uma afirmação que, segundo a compilação de evidências apresentada pelos especialistas do grupo, não tem o menor fundamento.

"Não é que não exista futuro para o carvão. Mas é que não é dessa forma", explica P.R. Shukla, especialista do Instituto Indiano de Gerenciamento. Segundo ele, é impossível continuar o ritmo de crescimento das emissões de carbono geradas pelo carvão e tentar limitar o aquecimento global em até 2º C --limite que em 2010 foi acordado pelos países-membros da convenção do clima.

Apesar de ser apontada há décadas como um dos maiores vilões do aquecimento global, a extração do mineral vem crescendo repetidamente. Do ano 2000 até agora, houve uma alta de 69%, e a extração anual se aproxima das 8 bilhões de toneladas. A Agência Internacional de Energia estima que 41% da energia elétrica mundial seja gerada com carvão.

A jornalista Giuliana Miranda viajou a convite da Deutsche Welle Akademie


Endereço da página:

Links no texto: