Folha de S. Paulo


Japão desiste de meta de redução das emissões de carbono

O governo japonês anunciou nesta sexta-feira, em meio às negociações da COP-19 (conferência mundial do clima da ONU), que irá voltar atrás em suas metas de redução de carbono. A justificativa é a interrupção da operação das 50 usinas nucleares do país após a tragédia de Fukushima.

Agora, em vez de uma redução de 25% nas emissões em comparação aos níveis de 1990, o país asiático chegará a 2020 liberando 3,1% a mais de carbono em relação ao mesmo período.

Em uma declaração feita em Tóquio, o chefe de gabinete do governo japonês, Yoshihide Suga, afirmou que as metas anteriores, propostas por políticos do Partido Democrata --que agora estão na oposição-- eram não realistas e "totalmente sem fundamento".

A meta foi anunciada em 2009, quando os países industrializados foram encorajados a apresentar propostas de redução.

Já em Varsóvia, o negociador-chefe japonês, Hiroshi Minami, afirmou que as novas metas refletem a realidade de não contar com a energia nuclear na matriz energética.

"Teremos de reduzir nossa ambição", resumiu.

Em 2011, o Japão foi atingido por um terremoto seguido por um tsunami. A onda gigante se chocou com a usina de Fukushima, provocando o vazamento de material radioativo.

Após o incidente, o Japão decidiu interromper a operação de suas instalações atômicas, que até a data do acidente respondiam por um quarto de sua matriz energética. Apesar de gerarem resíduos radioativos, a operação dessas instalações gera pouquíssimas emissões de carbono.

A decisão japonesa provocou uma série de reações negativas, tanto em outras delegações como entre ambientalistas.

O país acabou recebendo o Fóssil do Dia, "prêmio" concedido ao país que mais atrapalha as negociações ambientais.

Wael Hmaidan, diretor da CAN (Climate Action Network), que reúne algumas das mais importantes ONGs da área, classificou a decisão japonesa de "ultrajante".

"Isso terá um sério e negativo impacto nas negociações. Retirar-se da ação climática é como um tapa na cara daqueles que estão sofrendo com as mudanças climáticas, como as Filipinas", afirmou.

Alguns ambientalistas questionaram os reais motivos da revisão das emissões.

"O governo japonês justifica o anúncio usando o fechamento das usinas nucleares após o terremoto e o tsunami de 2011. Mas a análise da matriz energética do país mostra crescentes investimentos em térmicas a carvão desde 1990", diz Délcio Rodrigues, especialista em energias renováveis e mudanças climáticas da ONG Vitae Civilis.

Esse é o segundo revés de país industrializado durante a conferência. O governo australiano também anunciou uma revisão nas políticas ambientais.

A jornalista GIULIANA MIRANDA viajou a convite da Deutsche Welle Akademie


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