Folha de S. Paulo


Análise: Fase mais dura do combate à destruição só está começando

O aumento de 28% na taxa anual de desmatamento na Amazônia não chega a alarmar, mas é preocupante. O problema está na mudança da dinâmica do desmatamento, que pode tornar obsoletas as formas de combate que vinham funcionando.

A marca de 5.843 km² ainda está muito abaixo de todo os períodos anteriores desde 1988 (exceto 2012). Naquele ano, pereceram 27,7 mil km², quase um Sergipe e meio.

De 2004 a 2012, a redução foi de 84%. Um sinal claro de que as medidas de combate estavam funcionando. Entre as mais eficazes figuram a lista de municípios com desmate superior a 110 km² num ano e as restrições de crédito para produtores rurais.

Agora surge um patamar de 5.000 km². Já se fala em "núcleo duro" do desmatamento, mais difícil de conter.

A maior parte do desmatamento na Amazônia é ilegal. Isso fica evidente no fato de 60% do desmate ocorrer em fragmentos de menos de 25 hectares (500 m x 500 m).

É o limite inferior da capacidade de detecção dos sensores em satélites usados pelo sistema Deter -- os binóculos do Ibama. Seus alertas diários apontam aonde a fiscalização precisa ir.
nuvens e chuvas

Os desmatadores ilegais já sabem disso. Não só cortam áreas menores que 25 hectares como passaram a desmatar no "inverno" amazônico, o período chuvoso no primeiro semestre. Ajuda a evitar flagrantes, porque as nuvens turvam a visão dos satélites.

Os pontos de aumento de desmate, agora, se concentram no Estado do Pará: ao longo da rodovia BR-163, principalmente em torno de Novo Progresso, e na região de Altamira, no eixo da Transamazônica. Outra estrada, a BR-319 (Manaus-Porto Velho), está na origem de um foco novo, no sul do Amazonas.

Repete-se, assim, um padrão velho de décadas: rodovias asfaltadas induzem desmatamento. As terras se valorizam, o que estimula grileiros, que desmatam para tomar posse da terra, na esperança de um dia vendê-la ou ter a posse reconhecida.

É o que se chama de desmatamento "especulativo". Ele não é promovido por produtores interessados em abrir áreas para produzir alimentos (gado e grãos), relativamente mais fáceis de reprimir com o torniquete do crédito. O desmatamento está agora mais pulverizado, espalhado pela vizinhança de assentamentos e regiões de garimpo.

A ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, não mede esforços para fazer crer que já dispõe de armas e tropas para combatê-lo. Mas ainda é cedo para afirmar, como ela, que se trata de uma flutuação nas taxas de desmate.


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