Folha de S. Paulo


Desmatamento não prejudicará negociações do Brasil na conferência do clima, diz ministra

Nos últimos anos, as sucessivas quedas no desmatamento da Amazônia foram a "cereja do bolo" da participação do Brasil na conferência mundial do clima da ONU. Números esses usados por nossos negociadores para indicar que o país estava fazendo o "dever de casa" para reduzir suas emissões de carbono.

Com o anúncio da alta de 28% coincidindo com a COP-19, que acontece a até a sexta-feira que vem em Varsóvia, há quem acredite que o país perdeu poder de barganha. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, nega que que isso vá acontecer.

"Não vai interferir nas negociações. O compromisso do Brasil é de caráter voluntário, não é como o de outros países que tinham de ter reduzido e não conseguiram", disse a ministra, em entrevista a jornalistas brasileiras presentes na conferência.

"Ainda assim, essa é a segunda menor taxa de desmatamento da história", ressaltou a ministra.

Nos corredores do Estádio Nacional de Varsóvia, onde acontece a a conferência, no entanto, a sensação era um pouco distinta. Ambientalistas se agitaram com o anúncio, que confirmou uma especulação que já rondava o espaço desde o início da semana.

O negociador-chefe do Brasil, José Antônio Marcondes de Carvalho, não quis falar com a imprensa para comentar os possíveis reflexos do anúncios. Outros representantes da delegação brasileira, uma das maiores presentes na Polônia, seguiram o mesmo caminho.

Desde o início da COP, na segunda-feira, os negociadores brasileiros evitavam comentar uma possível alta do desmatamento, mencionada por diversas ONGs. Nos últimos três dias, a delegação brasileira concelou as coletivas de imprensa programadas.

Com o anúncio dos números do desmatamento, a ministra decidiu mudar sua agenda na COP. Antecipou sua chegada em algumas horas, na próxima terça-feira, mas também vai voltar mais cedo para o Brasil, na noite quarta.

Na quinta de manhã, quem assume a chefia da delegação brasileira é o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, que chega diretamente da Rússia.

Ele foi o negociador-chefe do Brasil nas últimas conferências do clima, mas havia se despedido do posto para assumir o cargo de representante brasileiro na ONU.

AMBIENTALISTAS

Após a decisão, diversas ONGs se manifestaram contra o que chamaram de uma "tragédia anunciada".

"Todos os anos o Brasil chega aqui com os números recordes de queda do desmatamento e é aplaudido por outras delegações. Como eles vão fazer esse ano sem essas boas notícias?", questiona Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, que participa das discussões em Varsóvia.

"A redução do desmatamento era a única coisa concreta em que o Brasil havia feito para reduzir as emissões. Todos os outros setores, especialmente o de energia, tiveram uma grande alta", avalia André Ferretti, coordenador de estratégia da Fundação Boticário, também nas negociações na capital polonesa.

Segundo ele, as emissões de carbono no Brasil em 2013 serão comprometidas no ano que vem.

"Além do aumento de quase 30% no desmatamento, há ainda a questão das termelétricas. Com a seca deste ano, várias delas foram acionadas para substituir a energia das hidrelétricas", completou.

Um relatório independente feito pelo Observatório do Clima e divulgado na semana passada estimou que o Brasil emitiu em 2012 a menor quantidade de carbono dos últimos 20 anos, mas mostrou também que havia uma nítida tendência de alta, suplantada pela redução do desmatamento, o maior responsável pelas emissões do Brasil.

A jornalista GIULIANA MIRANDA viajou a convite da Deutsche Welle Akademie


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