Folha de S. Paulo


Diplomata filipino entra em greve de fome para pressionar por verbas para seu país

O diplomata Naderev "Yeb" Sano, chefe da delegação das Filipinas na COP-19 (conferência do clima da ONU), surpreendeu representantes dos 195 países presentes na reunião de abertura do evento e anunciou que está começando uma greve de fome nesta segunda-feira.

Sano foi às lágrimas durante o anúncio, que foi seguido por uma salva de palmas, de pé, pela delegação de vários países em desenvolvimento. Vários delegados gritaram em coro seu nome nas instalações do Estádio Nacional de Varsóvia.

Segundo ele, o jejum irá durar toda a conferência --as próximas duas semanas-- até que haja avanços concretos para a mobilização de verbas para os países atingidos pelas mudanças climáticas.

Kacper Pempel/Reuters
O diplomata filipino Naderev Sano é cumprimentado pelo representante da delegação japonesa Hiroshi Minami, na abertura da COP-19
O diplomata Naderev Sano é cumprimentado pelo representante da delegação japonesa Hiroshi Minami, na abertura da COP-19

No último sábado, as Filipinas foram atingidas pelo tufão Haiyan, de categoria cinco, o mais mortal de sua história. Oficialmente, a contagem de mortos ainda está nas centenas, mas especialistas falam em milhares de vítimas fatais.

O país asiático sempre esteve na rota de fenômenos naturais do tipo, mas, segundo especialistas, a frequência e a intensidade dos tufões estão aumentando. As autoridades filipinas falam que, agora, são em média 22 eventos desse tipo por ano, causando prejuízos materiais e a perda de vidas.

O chefe das delegação das Filipinas diz que o tufão do fim de semana atingiu a cidade da sua família e que ele ficou dias sem notícias de seus próprios parentes e amigos.

"Em solidariedade aos membros da minha família que estão lutando em meu país para encontrar comida. Em solidariedade ao meu irmão, que não come há dias. Com todo o respeito, senhor presidente, e eu não quero ser desrespeitoso com a sua generosa hospitalidade. Mas eu estou agora começando um jejum voluntário até o fim desta conferência. Eu vou me abster de comer durante esta COP, até que negociações para garantir a mobilização de verbas no Fundo Verde do Clima estejam avançadas", disse o diplomata, pouco antes de ir às lágrimas.

No ano passado, o diplomata já havia chorado no plenário, também por conta de um tufão. Na ocasião, as Filipinas haviam sido atingidas por um tufão que deixou centenas de mortos e desabrigados.

"Eu estou ficando com medo de vir às reuniões do clima da ONU. Toda vez, é um desastre", disse à Folha outra representante da delegação das Filipinas, a diplomata Alicia Ilaga. Segundo ela, os países desenvolvidos estão mostrando muita "solidariedade, muitos apertos de mão", mas até agora, ninguém enviou financiamento.

O diplomata em greve de fome pede pressa para a liberação de recursos para os países em desenvolvimento que, como as Filipinas, estão sendo atingidas pelo aumento dos problemas ambientais causados pelo aquecimento global.

O Fundo Verde do Clima foi proposto na conferência do clima de 2009, em Copenhague, e teve seu design aprovado na de Durban, em 2011. Os países desenvolvidos o se comprometeram a doar dinheiro para financiar medidas de adaptação e mitigação nas nações menos desenvolvidas.

Até agora, no entanto, ainda não há muitas decisões concretas sobre a o financiamento e a distribuição dos recursos. Enquanto isso, os países mais pobres continuam sem ver a cor dos recursos.

Durante a conferência há uma grande expectativa de que os países cheguem pelo menos a um acordo neste assunto.

A decisão sobre um novo pacto global do clima, que substituirá o Protocolo de Kyoto, ficou para 2015, em Paris.

A jornalista GIULIANA MIRANDA viajou a convite da Deutsche Welle Akademie


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