Folha de S. Paulo


Índia aposta na biomassa para gerar eletricidade

A desajeitada usina elétrica instalada em frente a campos verdejantes do Estado do Punjab, no noroeste da Índia, não parece ser uma fonte de energia renovável. Mas seu pátio não está ocupado por montes de carvão, mas por fardos de palha de arroz. Máquinas quebram os pesados cubos de palha, enquanto homens com forcados erguem as pilhas até uma correia transmissora que as leva à usina.

Trata-se da Usina de Biomassa do Punjab, próxima à aldeia de Ghanaur, que recolhe a palha produzida por agricultores que normalmente queimariam o material ao ar livre. Em vez disso, a Usina de Biomassa do Punjab queima anualmente 109 mil toneladas de palha de arroz, gerando assim 12 megawatts de eletricidade.

A usina produz emissões, embora seus filtros reduzam a quantidade em relação ao que seria emitido pela queima ao ar livre. Mas essa energia de biomassa é considerada neutra em carbono, porque o combustível usado pelas usinas -como bagaço de cana e cascas de nozes- retirou dióxido de carbono da atmosfera durante a fase de cultivo. As usinas energéticas de biomassa estão aptas a receber créditos de carbono, que se traduzem em dinheiro, e a direção da usina do Punjab espera ganhar centenas de milhares de dólares por ano com ela.

Os resíduos agrícolas são abundantes na Índia, já que cerca de 60% da população depende da agricultura para a subsistência. A Usina de Biomassa do Punjab paga cerca de US$ 20 por hectare de palha de arroz a 15 mil agricultores.

No entanto, a biomassa está longe de ser uma solução para as necessidades energéticas do 1,2 bilhão de habitantes da Índia. Energias alternativas, como eólica, solar e de biomassa, responderam em 2009 por menos de 8% da geração energética na Índia. Mas o país importa cerca de 70% do petróleo e do gás natural que consome e depende do carvão para mais de metade da sua geração energética. Por isso, é preciso considerar todas as opções.

O primeiro-ministro Manmohan Singh já propôs que a Índia mais do que duplique sua oferta de energia não convencional, incluindo a de biomassa, passando de 25 gigawatts em 2012 para 55 gigawatts em 2017.

Sunil Dhingra, do Instituto de Recursos Energéticos, entidade com sede em Nova Déli, estimou que a Índia produza 545 milhões de resíduos agrícolas por ano. Esse é "um grande recurso que precisa ser canalizado", segundo ele.

Alguns países da Europa já dominaram com sucesso a energia da biomassa. Na Finlândia, a biomassa resultante do setor madeireiro representa 20% da oferta energética, segundo a Associação Europeia da Indústria da Biomassa. Na Suécia, 16% da energia vêm da biomassa. Na Índia, a biomassa tem potencial para gerar pelo menos 18 gigawatts, segundo o governo.
Mas há muitos desafios para a ampliação da energia de biomassa, especialmente para a coleta, a armazenagem e o transporte dos resíduos agrícolas até as usinas. As empresas precisam receber autorizações para ocupar terrenos com armazéns -o que não é uma tarefa fácil na burocrática Índia.

Mesmo assim, outras oito usinas a base de palha de arroz estão planejadas no Estado do Punjab, para gerar até 96 megawatts de eletricidade a partir de 2017. Na Índia como um todo, a empresa Bermaco Energy Systems, sócia da usina do Punjab, espera instalar 20 usinas de biomassa, gerando 240 megawatts durante os próximos três anos e cerca de um gigawatt nos seis anos seguintes.


Endereço da página: