Folha de S. Paulo


Capim para gado pode agravar efeito estufa, segundo pesquisa

Capim usado na alimentação de 80% do rebanho bovino nacional, a braquiária pode contribuir para o agravamento do efeito estufa se cultivada no ambiente esperado para 2040, de alta concentração de dióxido de carbono.

Nessas condições, a planta reduz em 5% a quantidade de folhas e aumenta em até 8% a presença de talos (com mais fibra não-digestível), o que torna a braquiária de baixo valor nutricional e provoca maior emissão de metano por bovinos.

Essa é a conclusão de uma pesquisa em andamento realizada por pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e da USP para medir o impacto do efeito estufa sobre a agricultura no Brasil.

A metodologia usada é a do enriquecimento de dióxido de carbono em ar livre. A braquiária, submetida à atmosfera de 550 ppm de CO2, a mesma esperada para 2040, provoca a redução de 5%. Além do capim, só o café passa pela experiência no país.

"Quanto mais baixo a qualidade da forragem, maior é a produção de metano pelo gado, o que obriga o pecuarista a gastar mais para uma alimentação de melhor qualidade", disse o pesquisador do Cena/USP (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), Adibe Luiz Abdalla.

Atualmente, a concentração do dióxido de carbono na atmosfera é de 400 ppm --recorde alcançado no mês passado. Pesquisas científicas apontam que na década de 1950, os níveis do poluente eram de 315 ppm.

Sobre o café, segundo a coordenadora da pesquisa, Raquel Ghini, foi verificado que, exposto à alta concentração do poluente, pode crescer e produzir mais, mas também fica mais vulnerável à probabilidade de doenças.

"No momento, o que estamos fazendo é colher o café para análises da qualidade do fruto. Somente após essa etapa é que podemos fechar a avaliação sobre a influência do efeito estuda na agricultura", disse ela.

EXPERIMENTO
A pesquisa, segundo Abdalla, ainda não chegou a identificar qual será a adaptação da braquiária diante do novo cenário atmosférico. "O que concluímos até agora foi que ela produz 20% a mais de biomassa com mais fotossíntese", disse.

O experimento está sendo realizado na unidade da Embrapa em Jaguariúna (123 km de São Paulo). A área possui 12 anéis, com 10 metros de diâmetro cada, sendo seis equipados com injeções de CO2 em seu interior, criando a atmosfera elevada.

Os resultados serão apresentados por Abdalla no próximo domingo em um evento sobre gases do efeito estufa, na Irlanda. "Queremos antecipar as ações do efeito estufa para prevenir os agricultores do país", disse Raquel.


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