Folha de S. Paulo


Para australiana, nova onda do consumo 'colaborativo' vai mudar o mundo

A forma de consumo do século 20, pautada pela aquisição e o acúmulo de bens materiais, está com os dias contados.

Agora o século 21 desenha um outro tipo de consumidor: aquele que, em vez de comprar uma coisa, adquire o serviço ou a experiência que um produto proporciona.

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A escritora Rachel Botsman, coautora do livro
A escritora e especialista em consumo Rachel Botsman, coautora do livro "O Que é Meu é Seu"

Essa é a aposta de Rachel Botsman, 35, coautora do livro "O Que É Meu É Seu: Como o Consumo Colaborativo Vai Mudar o Nosso Mundo" (Bookman, 262 págs., R$ 44), lançado em 2011.

Especialista nesse tipo de consumo --considerado pela revista americana "Time" uma das dez ideias que vão mudar o mundo--, Botsman foi nomeada Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial em abril.

Pós-graduada na Universidade Harvard, ela vive em Sydney e atua como consultora e palestrante. Confira trechos da sua entrevista à Folha.

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O que é consumo colaborativo e por que você diz que ele pode mudar o comportamento do consumidor?

Rachel Botsman - Defino consumo colaborativo como a reinvenção de antigos comportamentos mercantis --compartilhamento e troca, comércio e aluguel-- por meio de novas tecnologias em escala e formas nunca antes possíveis.

O consumo colaborativo faz parte de uma reinvenção massiva da forma como pensamos a propriedade e o status. Por que pagar milhares de dólares por uma bolsa de luxo se posso alugar uma diferente a cada mês?

As pessoas querem cada vez mais o benefício e a experiência que as coisas proporcionam, não as próprias coisas.

Qual o papel das novas tecnologias e redes sociais no consumo colaborativo?

Tecnologias sociais, de mobilidade e localização, são cruciais para o consumo colaborativo. Elas tornam o compartilhamento mais fluido a partir da eficiência e daconfiança. Agora é possível criar mercados que podem, de forma eficaz, conectar milhões de bens e aptidões com milhões de necessidades.

A aquisição de coisas em excesso está vinculada também a um sistema de produção em que as indústrias lucram a partir da escala e do volume de vendas. O consumo colaborativo modifica essa cadeia de produção?

Ele desbloqueia algo que chamo de capacidade ociosa: o potencial social, econômico e ambiental de ativos subutilizados. Por toda parte, temos coisas, habilidades, espaços cheios de potencial de uso que podemos desbloquear. A tecnologia permite acessar capacidades e torná-las concretas.

Dessa forma, diferentemente do modelo que produz para as pessoas comprarem muitos itens, o interesse das empresas passa a ser o de desenhar e manter um produto capaz de ficar em uso por um longo tempo.

Como o consumo colaborativo pode impulsionar negócios mais criativos e sustentáveis?

Esse consumo alimenta a inovação porque cria um mercado para coisas que antes não tinham espaço para ser comercializadas. [É possível alugar] casas na árvore, [contratar serviços de] tarefas domésticas e compartilhar carona.

Há empreendedores buscando formas de usar a tecnologia de modo criativo. Isso transfere o poder de grandes instituições para redes de indivíduos e comunidades.


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