Folha de S. Paulo


Livro retrata a beleza das cobras

Imagens da natureza --em foto ou vídeo-- saciam nossa curiosidade animal básica. Idealmente, nos levam a uma pausa em nossa insensata atividade de perseguir e abater outras criaturas como nós. Já que somos um animal primitivo ao ar livre --ao mesmo tempo predador e presa-- que virou um animal domesticado em ambiente fechado, a boa fotografia da natureza também nos oferece uma dolorosa janela para aquilo que perdemos.

No novo livro "Serpentine", de Mark Laita, as imagens nos sacodem da nossa moderna complacência e arrogância humanas, lembrando-nos de que todos nós, humanos ou não, estamos apenas tentando sobreviver neste planeta solitário.

Mark Laita/The New York Times
Píton-real preta e pastel albina, no novo livro
Píton-real preta e pastel albina, no novo livro "Serpentine", de Mark Laita

Em seu prólogo, Laita, cujo livro anterior foi "Sea" [Mar], tenta articular as razões desse projeto: "Atração e repulsa. Passividade e agressão. Sedução e perigo. Essas dicotomias extremas, junto com um antigo simbolismo ligado às cobras, são o que primeiramente me inspirou a produzir essa série".

Cerca de cem lindas imagens expõem serpentes de todos os continentes, menos da Antártida. Há mambas e najas, kraits e cobras-reais, jiboias e cascavéis, pítons e víboras. Há répteis dos gêneros Orthriophis, Agkistrodon, Acanthophis e Lachesis.

Mark Laita/The New York Times
Píton-real em volta de seus ovos, no livro
Píton-real em volta de seus ovos, no livro "Serpentine", de Mark Laita

Todas elas estão nítidas e deslumbrantes diante de um fundo negro, do sóbrio preto e branco da muçurana das Américas Central e do Sul ao colorido de neon da cobra-coral azul da Malásia.

Da cabeça pontuda, em forma do naipe de espadas, até a cauda que vai se estreitando gradualmente, passando por toda uma musculatura sinuosa, essas geometrias predatórias me deram vontade de acariciar as páginas cheias de cobras. Mas, como escreve Laita, "sua beleza salienta o perigo. O perigo amplifica sua beleza".

Quando focamos sua alteridade alienígena, nos sentimos mais humanos --como Laita reconhece ao final de "Serpentine", quando ele cita o poeta Rainer Maria Rilke: "Talvez tudo o que nos assusta seja, em sua essência mais profunda, algo desamparado que precisa do nosso amor".


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