Folha de S. Paulo


Brasil está no fim da fila mundial

DE SÃO PAULO

Se a lente de análise for ampliada para outros países, as melhores universidades brasileiras vão para o final da fila. E a imensa maioria delas nem sequer aparece nas listagens universitárias globais.

Nos principais rankings internacionais, a melhor universidade brasileira (USP), por exemplo, oscila entre 150ª e 200ª posições. Na listagem holandesa Leiden, o cenário é pior: 468º lugar, atrás da UFSC (434º), da UFMG (461º) e da Unicamp (463º).

Falta dinheiro? Para o especialista em ensino superior Renato Pedrosa, da Unicamp, o problema é a gestão da universidade pública brasileira.

Sem flexibilidade para contratar e para comprar material com agilidade, o sistema trava a produção científica e joga as universidades brasileiras para baixo.

"O sistema é engessado. Com concursos e salários padronizados, o Brasil não consegue segurar ou atrair os melhores docentes do mundo."

Jae C. Hong - 16.set.10/Associated Press
Engenheiros trabalham em robô da missão a Marte na Caltech (California Institute of Technology)
Engenheiros trabalham em robô da missão a Marte na Caltech (California Institute of Technology)

Hoje, um professor universitário brasileiro no topo da carreira ganha em média U$S 4.550 mensais (R$ 9.000). E, diferentemente do que ocorre nas grandes universidades estrangeiras, o salário não muda com a produtividade.

"A universidade paga a mesma coisa para quem produz muito e para quem não produz nada. O que você acha que vai acontecer nesse caso?", questiona Elizabeth Balbachevsky, especialista em ensino superior da USP.

Salário alto é um dos segredos das universidades chinesas, que conseguem atrair até ganhadores do Prêmio Nobel.

Como em alguns rankings um dos indicadores usados é justamente quantidade de Nobel, o Brasil, sem nenhum premiado, fica para trás. Harvard, a melhor do mundo de acordo com a última listagem de Xangai, tem 44 Nobel.

BANCADA TRAVADA

Não são apenas os salários, porém, que engessam os corredores acadêmicos do país.

De acordo com a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, a pesquisa também sofre -e muito- com a burocracia.

"Muito do que usamos não é produzido no Brasil. Cada processo de importação é uma papelada enorme", diz.

Quando a Folha conversou com Zatz, um material que ela havia importado estava preso na alfândega há semanas por causa da greve da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Um simples reagente, líquido usado em trabalhos laboratoriais, pode levar até seis meses desde o pedido até chegar à bancada.

"Nos EUA, chega em dois dias. Não dá para competir assim", diz. (SABINE RIGHETTI)


Endereço da página: