Folha de S. Paulo


Apple decide usar serviço de nuvem do Google

Mike Segar/Reuters - jul.2015
Logo da Apple em Manhattan, Nova York, em foto de julho de 2015
Logo da Apple em loja de NY; empresa usa serviços de nuvem de rivais como Google e Amazon

A Apple transferiu parte dos serviços de seu sistema iCloud para a Google Cloud, o que representa uma das mais importantes vitórias para a unidade que a Alphabet criou para enfrentar a Amazon Web Services (AWS), desde que uma nova liderança foi apontada para ela no final do ano passado.

O Google ocupava uma distante terceira posição na corrida contra a Amazon e a divisão Azure, da Microsoft, na disputa do trio pelo mercado de computação em nuvem, mas vem avançando consideravelmente desde que Diane Greene, veterana do setor, assumiu o comando da divisão em novembro.

O Google também conquistou uma vitória junto ao Spotify, no mês passado, quando o serviço de música em formato stream anunciou que abandonaria a AWS e transferiria todas as suas atividades para a plataforma Google Cloud.

A decisão da Apple de usar o Google para hospedar os serviços iCloud vem como parte de uma diversificação maior para sua ampla gama de serviços de Internet, como backups em nuvem para fotos, músicas e vídeos. A Apple já usa serviços em nuvem da Amazon e Microsoft, além de centrais próprias de processamento de dados, de acordo com pessoas informadas sobre a questão.

A Apple pode no futuro cuidar de porção maior desses serviços com sua estrutura interna, e revelou planos para construir três novas centrais de processamento de dados em dois anos, além das quatro que já tem em operação.

Como uma das maiores companhias do mundo, e diante de necessidades rapidamente crescentes de armazenagem e poder de processamento, a Apple é um cliente importante para os provedores de serviços de computação em nuvem. Analistas sugerem que ela pode estar tirando vantagem da concorrência entre os provedores, em um momento de alta competição.

A contratação do Google pela Apple para serviços de computação em nuvem também representa um raro momento de cooperação entre empresas envolvidas em uma feroz concorrência em outras áreas de negócios.

No entanto, esse tipo de dinâmica não é incomum no ramo de infraestrutura para a Internet: apesar de ter sido adquirida pelo Google há dois anos, a Nest, fabricante de aparelhos domésticos inteligentes, ainda usa a AWS para suas necessidades de computação em nuvem.

Os serviços em nuvem do Google viveram por muito tempo em desvantagem diante da Microsoft e Amazon. Uma pesquisa recente da Rightscale, uma empresa que fornece serviços de gestão em nuvem, constatou que apenas 6% dos respondentes usavam a infraestrutura de nuvem do Google, ante 17% que usavam a Microsoft e 57% a Amazon.

No entanto, o serviço de busca reforçou suas operações em nuvem com a indicação de Greene, cofundadora da VMware, para comandá-las.

"Uma coisa que temos ouvido dos clientes é que eles estão sendo mais agressivos quanto à negociação dos termos comerciais", disse Kim Weims, diretora de marketing da RightScale, sobre o Google. "Eles estão tentando fazer o máximo para conquistar grandes empresas como clientes".

A decisão representará novas questões para a AWS, a líder no mercado de computação em nuvem. Analistas do banco Morgan Stanley estimam que a Apple gastará US$ 1 bilhão em serviços da AWS este ano, cerca de 10% do faturamento total da unidade.

Além de perder a Spotify, a AWS sofreu novo golpe esta semana quando o Dropbox, outro cliente veterano, revelou que havia transferido a maior parte de seus dados para seus servidores, a fim de economizar dinheiro e ganhar eficiência.

Desde que lançou seu primeiro serviço uma década atrás, a AWS vem dominando o mercado por ter chegado primeiro, mas a concorrência endureceu recentemente com novas ofertas de Microsoft e Google.

"A AWS claramente ainda está na liderança pela vasta amplitude de seus serviços", disse Weins, acrescentando que o aumento no número de serviços do Google havia ajudado a empresa a conquistar negócios. Todas as três empresas vêm reduzindo preços, ao longo do tempo.

Com a mudança nas estratégias de nuvem da Apple, diversas empresas vêm sendo afetadas. A Akamei, outra provedora de infraestrutura de rede, que ao que se sabe tem grandes empresas de tecnologia como a Apple, Microsoft e Facebook entre seus clientes, alertou nos últimos meses que seus maiores clientes estão começando a cuidar diretamente de suas necessidades em termos de processamento de dados.

Frank Thomson Leighton, presidente-executivo da Akamai, declarou em conversa com analistas ao anunciar os resultados da empresa, em fevereiro, que o faturamento com os dois maiores clientes cairia de 13% para 6% das vendas totais da empresa este ano, como resultado dos "crescentes esforços das empresas", não identificadas, "para atenderem às próprias necessidades". Analistas sugeriram que a Apple provavelmente é uma dessas empresas.

A decisão da Apple de recorrer ao Google para a iCloud foi reportada inicialmente pelo site de notícias de tecnologia CRN.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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