Folha de S. Paulo


Pessoas só reconhecem metade das imagens digitais falsas que veem

Reprodução
Trabalho da UFRGS constatou que o olho humano é péssimo para avaliar imagens modificadas
Borda vermelha indica bloco que foi copiado e reproduzido na imagem
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Trabalho da UFRGS constatou que o olho humano é péssimo para avaliar imagens modificadas
Borda vermelha indica bloco que foi copiado e reproduzido na imagem

O olho humano não é uma boa ferramenta para reconhecer imagens adulteradas. É essa a conclusão de um estudo feito pelo pesquisador Victor Schetinger, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e três colegas.

Para chegar a esse resultado, eles pegaram 177 imagens, das quais 97 haviam sido editadas, e pediram a 393 colegas da universidade para dizer se a foto era verdadeira ou falsa.

O resultado foi que, diante de uma imagem alterada, apenas em 46,5% das vezes a pessoa conseguia afirmar de forma correta se houve alguma modificação.

"Dizer que somos ruins em reconhecer imagens falsas é de longe a maior conclusão. E é fácil ver como isso pode ser impactante no dia a dia das pessoas. Somos expostos a tantas imagens digitais", diz Schetinger à Folha.

"O pessoal se revolta e compartilha coisas se baseando em uma imagem, e tem até empresas que aceitam fotos ou documentos digitalizados. Se pensarmos que metade das imagens falsas que vemos passa despercebida, é algo bem sério", acrescenta.

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Trabalho da UFRGS constatou que o olho humano é péssimo para avaliar imagens modificadas
Elemento foi apagado na parte esquerda da imagem, mas textura deixa evidências
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Trabalho da UFRGS constatou que o olho humano é péssimo para avaliar imagens modificadas
Elemento foi apagado na parte esquerda da imagem, mas textura deixa evidências

No teste, não bastava aos participantes dizer apenas se houve algum tipo de modificação na imagem. Para evitar chutes, caso a pessoa considerasse se tratar de uma foto falsa, era preciso também clicar em qual ponto ela havia sido alterada.

"Se o usuário disse que a imagem era falsa, mas clicou em uma parte aleatória, para todos os fins ele errou. É importante sabermos isso, além de simplesmente se a foto é verdadeira ou falsa", diz.

Analisar o clique dos usuários permitiu aos pesquisadores ver do que os participantes suspeitavam, mesmo quando erravam.

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Trabalho da UFRGS constatou que o olho humano é péssimo para avaliar imagens modificadas
Rosto de outro homem foi colocado na imagem
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Trabalho da UFRGS constatou que o olho humano é péssimo para avaliar imagens modificadas
Rosto de outro homem foi colocado na imagem

Outro achado do estudo foi que apagar um elemento do cenário é o tipo de adulteração mais difícil de ser percebida. "Copy-paste", em que se copia uma parte da imagem veio em seguida, enquanto "splicing", aquelas com algum elemento incorporado à foto, são as mais fáceis de identificar.

"'Splicing' é o tipo mais comum de montagem. Você retira um objeto de uma imagem e cola em outra diferente, como recortar Barack Obama em uma foto e botá-lo abraçando Angela Merkel em outra. 'Copy-paste' é quando você copia algo da mesma imagem, por exemplo, pessoas para uma multidão parecer maior. E 'erasing' é quando apagamos algum elemento", explica.

Ele afirmou que fatores como grau de educação e idade pouco interferiram nos resultados. No entanto, usuários com boas práticas, como analisar a imagem no tamanho original e de forma cuidadosa, tiveram um desempenho melhor. E são essas as recomendações que o pesquisador dá para quem não quiser cair em uma imagem modificada no dia a dia.


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