Folha de S. Paulo


Agência de aviação dos EUA pode afrouxar regras sobre uso de eletrônicos em voo

Se você está sentado em um avião no portão de embarque e lendo esta coluna em um aparelho eletrônico, você está prestes a ouvir oito palavras temidas: "Por favor, desligue os aparelhos eletrônicos para a decolagem." Mas, no próximo ano, você poderá ouvir algo muito diferente: "Por favor, coloque seus dispositivos em 'modo avião' para a decolagem."

De acordo com pessoas que trabalham com um grupo de trabalho da indústria formado pela FAA, a administração federal de aviação dos EUA, criado no ano passado para estudar o uso de dispositivos eletrônicos portáteis em aviões, a agência espera anunciar até o fim deste ano que vai relaxar as regras para dispositivos de leitura durante decolagem e pouso. A mudança não inclui celulares.

Uli Seit/The New York Times
Tony Drockton usa seu computador dentro de avião no aeroporto John F. Kennedy, em Nova York
Tony Drockton usa seu computador dentro de avião no aeroporto John F. Kennedy, em Nova York

Um dos membros do grupo e um funcionário da FAA, que pediram anonimato porque não estavam autorizados a falar publicamente sobre discussões internas, afirmaram que a agência estava sob enorme pressão para deixar as pessoas usarem dispositivos de leitura em aviões ou para fornecer uma sólida evidência científica sobre por que elas não podem fazê-lo.

Como escrevi em 2011, os viajantes são aconselhados a desligar seus iPads e Kindles para decolagem e pouso, embora não haja ainda nenhuma prova de que esses dispositivos possam afetar a operação do avião. Para aumentar a confusão, a FAA permite que os passageiros usem barbeadores elétricos e gravadores de áudio durante todas as fases do voo, apesar de estes gerarem mais emissões eletrônicas do que tablets para leitura.

Procurada, a FAA não quis comentar o assunto.

No ano passado, a agência anunciou que um grupo de trabalho estudaria a questão. O grupo, que se reuniu pela primeira vez em janeiro, é formado por pessoas de várias indústrias, incluindo a Amazon, a Consumer Electronics Association, a Boeing, a Associação de Comissários de Bordo, a FCC (Comissão Federal de Comunicações) e fabricantes de aeronaves. O grupo planeja apresentar as suas conclusões até 31 de julho.

O grupo tem vários objetivos além de determinar a segurança de produtos eletrônicos em aviões, de acordo com um documento interno ao qual o "New York Times" teve acesso. Estes incluem assegurar que os comissários de bordo não têm que ser a polícia social para definir quais dispositivos são aceitáveis durante o voo e determinar o que o termo "modo avião" realmente significa. Finalmente, o grupo quer garantir que as regras que a agência anunciar se apliquem a dispositivos que não estão no mercado hoje.

O relatório também espera substituir várias regulamentações com um conjunto único e conciso.

Para garantir que a FAA siga adiante com sua promessa de flexibilizar as regras, a senadora Claire McCaskill, democrata do Missouri, disse que planeja responsabilizar a agência pela introdução de legislação.

Em entrevista por telefone, McCaskill disse que estava frustrada com a posição da FAA sobre dispositivos depois que soube que a agência agora permite iPads como manuais de voo no cockpit e posteriormente deu dispositivos para alguns comissários de bordo com informações sobre os procedimentos de voo.

"Então não há problema em ter iPads no cockpit, é OK para assistentes de voo --e eles não estão em pânico--, mas ainda não é OK para o público que viaja", disse ela. "Uma cópia voadora de 'Guerra e Paz' é mais perigosa do que um Kindle."

Nos últimos meses, Julius Genachowski, presidente da FCC, enviou uma carta para a FAA instando-a a permitir o uso de eletrônicos em aviões. Sindicatos de pilotos de avião, coligações de viagens e agências de viagens também pediram que a agência mude as regras. Também houve mais episódios de passageiros indisciplinados que foram presos ou tirados de aviões por se recusarem a desligar seus celulares ou iPads.

McCaskill se reuniu neste mês com Genachowski, que disse na sexta-feira (22) que vai deixar a comissão em breve, para discutir a regra. Após a reunião, ela disse: "A ideia de que o uso de dispositivos eletrônicos em voos para coisas como a leitura de um livro representa uma ameaça para a segurança dos passageiros de avião é infundada e ultrapassada".

A questão cresce em importância à medida que mais americanos embarcam em voos com computadores vestíveis. As pessoas estão voando com eletrônicos como a FuelBand, da Nike, o Jawbone Up e o FitBit, que rastreiam a atividade diária do usuário. Mas, em pouco tempo, haverá passageiros com óculos do Google e com um iWatch, da Apple.

Você pode imaginar os pilotos mandando as pessoas desligarem seus óculos antes da decolagem?

"Nós vamos começar a elaborar a legislação que ditará essas mudanças", disse McCaskill, acrescentando que a FAA estava se movendo muito lentamente. Ela disse que tem se reunido com vários partidos e encurralando apoio bipartidário para a ação no Congresso. "Vamos esperar que não seja necessário, mas eu estarei à procura de meios para conseguir mudar isso."


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