Folha de S. Paulo


Índios presos na Bahia alegam ter sido agredidos por policiais

Os cinco indígenas e o servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) presos nesta terça-feira (9) na cidade de Ibicuí, sudoeste da Bahia, afirmam que foram agredidos pelos policiais que os prenderam.

Eles foram abordados dentro de um carro da Funai durante uma operação da Polícia Civil da Bahia para investigar milícias que atuam na região e foram presos sob acusação de porte ilegal de armas.

Depois de terem sido soltos após o pagamento de fiança nesta quarta-feira (10), os indígenas acionaram a Defensoria Pública da União para denunciar os supostos crimes praticados pelos policiais e foram ao Departamento de Polícia Técnica em Ilhéus, sul da Bahia, para fazer exame de corpo de delito.

Elas ainda afirmam que não estavam armados e que os revólveres e pistolas apreendidos teriam sido "plantados" pelos policiais, que teriam simulado o flagrante.

"O que me parece é que foi uma grande armação", afirmou o defensor Ricardo Fonseca, da Defensoria Pública da União na Bahia, que acompanha o caso.

Segundo ele, tanto os índios quanto o servidor da Funai estavam machucados com escoriações, queimaduras e edemas. Os índios relataram que foram agredidos com socos e obrigados a ficar deitados sob pedras quentes na estrada durante mais uma hora.

A polícia dá uma versão diferente. Segundo o delegado Márcio Allan Assunção, que comandou a operação, foram encontrados com os índios dois revólveres de calibre 38 e uma pistola 135 mm dentro do carro da Funai, além de outras quatro armas em uma fazenda onde eles moram.

Um delegado da Polícia Federal está apurando o caso e uma denúncia será feita ao Ministério Público Federal.

Em nota, a Polícia Civil da Bahia informou que a ação dos policiais "transcorreu sem incidentes" e que "a informação de que os detidos teriam sido torturados não procede, pois nem algemados eles estavam quando foram conduzidos à delegacia local".

Os índios presos fazem parte comunidade indígena da aldeia tupinambá Serra do Padeiro, área conhecida por conflitos agrários entre índios e agricultores, e são ligados Cacique Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como Cacique Babau.

Babau foi um das pessoas que teve o indiciamento sugerido no relatório final da CPI da Funai-Incra, criada por deputados ruralistas na Câmara dos Deputados. Os parlamentares classificaram o cacique como um "falso índio" por, segundo eles, apresentar características físicas de negro e não indígena.


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