Folha de S. Paulo


No Rio, obras sob suspeita de propina são 'legado maldito'

Tomaz Silva/Agência Brasil
A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, visita o Teleférico do Alemão, zona norte do Rio. (Tomaz Silva/Agência Brasil)
O teleférico do Complexo do Alemão, que está sob suspeita do Ministério Público Federal

O governo do Rio encontra dificuldades para manter as três obras apontadas pelo Ministério Público Federal como fonte da propina ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Por suas dimensões e falta de planejamento, são apontadas como potenciais "elefantes brancos".

São elas o teleférico do Complexo do Alemão, o Maracanã reformado e o Arco Metropolitano. As três estruturas, embora com ares modernos, têm alto custo de manutenção. O Estado não sabe como financiá-las em plena crise. Todas são citadas em delações premiadas como fonte de propinas pagas pela Andrade Gutierrez.

O teleférico, símbolo das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas favelas do Rio, custou R$ 253 milhões, mais de um quarto de todo o investimento nas comunidades do Alemão, Manguinhos e Rocinha.

Cinco anos após sua conclusão, o equipamento operava abaixo da capacidade. Só 9.000 usavam as gôndolas diariamente, enquanto a capacidade prevista era de 30 mil.

Parte do problema se deve ao fato de as estações terem sido construídas no topo dos morros que compõem o complexo. Apenas moradores que vivem perto delas usam o sistema –quem está distante decide não subir.

Em 2010, a Folha revelou que a licitação feita em 2008 para a obra tinha indícios de cartel. Delações de executivos da Andrade Gutierrez confirmaram a prática. De acordo com os depoimentos, a empreiteira pagou uma mesada de R$ 350 mil para manter-se no grupo de beneficiadas em disputas para obras.

Segundo a investigação, cobrança mensal foi feita a partir de 2007, para garantir a participação nas obras.

O Maracanã reformado também tem destino incerto. Tendo custado aos cofres públicos ao menos R$ 1,05 bilhão, o estádio foi entregue a um concessionário que não quer mais administrá-lo. A empresa, da Odebrecht, afirma que a gestão do complexo dá prejuízo.

O governo do Estado alterou seu plano para a arena e desistiu de demolir o Parque Aquático Maria Lenk e o Estádio de Atletismo Célio de Barros. Com isso, reduziu a área para exploração comercial perto do estádio, que corre o risco de ficar sem administrador por um período.

O custo da obra aumentou em 50% após falhas estruturais na cobertura original.

Já o Arco Metropolitano está sendo usado abaixo da capacidade. No ano passado, eram 15 mil veículos por dia, metade do previsto. Neste ano, o fluxo caiu ainda mais, mas a medição foi suspensa por falta de verba. A causa da subutilização combina crise econômica e falta de estrutura no local e segurança.

A rodovia foi construída principalmente para atender ao transporte de carga e evitar que entrassem na congestionada avenida Brasil. Contudo, um dos seus trechos finais que ligaria direto com a BR-101 não foi concluído pelo governo federal, o que reduziu seu impacto viário.

O Estado enviou ao governo federal uma proposta para concessão da rodovia, em conjunto com a BR-101 Sul, com a qual está interligada. O objetivo é livrar-se dos custos de manutenção.


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