Folha de S. Paulo


Projeto das 10 medidas não tem 'apoio cego', diz chefe da Lava Jato na PF

Em audiência pública sobre as dez medidas defendidas pelo Ministério Público para combater a corrupção que tramitam no Congresso Nacional, o delegado Igor Romário de Paula, que está à frente da Operação Lava Jato, afirmou que a Polícia Federal apoia o projeto, mas não de maneira "cega e irrestrita".

Acompanhado do diretor-geral da entidade, Leandro Daiello, que também foi convidado a falar sobre o tema, Romário de Paula criticou na manhã desta quinta (6) a concentração de poder no MPF (Ministério Público Federal) que pode decorrer da lei, caso seja aprovada.

O projeto é de autoria dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato e chegou ao Congresso após ter conseguido 2,1 milhões de assinaturas.

Um dos pontos criticados pelo delegado foi o "teste de integridade", que seria aplicado por órgãos policiais, de fiscalização e controle, por meio de simulações durante o trabalho em que uma questão ética seja abordada, sem o conhecimento do funcionário.

"Somos feitos do mesmo barro", disse o delegado usando as palavras diretor da Faculdade de Direito da UFPE Francisco Cavalcanti, que também foi convidado para falar sobre o tema nesta quinta.

"A proposta de lei coloca a obrigatoriedade dessa medida para policiais facultada a demais integrantes da administração pública. Se for adotada, tem que ser restrições, para todos", disse ele.

Romário de Paula aproveitou a oportunidade para trazer à tona outro tema que vem gerando conflitos entre a PF e a PGR (Procuradoria-Geral da República): a colaboração premiada.

"Não faz sentido retroceder e concentrar a colaboração premiada em uma única instituição. Isso não funciona, limita a investigação por parte da polícia", criticou o chefe da Lava Jato na PF.

Em abril, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entrou com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) questionando a constitucionalidade de trechos da Lei das Organizações Criminosas que autoriza delegados de polícia a fecharem colaborações premiadas. A Procuradoria pede que o tribunal proíba a PF de fechar acordos. A PF vem sendo alijada de acordos da Lava Jato desse novembro do ano passado, como a Folha informou.

A concentração de poder na mão dos procuradores e o teste de integridade também foram criticadas por outros convidados do debate, como Marcelino Rodrigues Mendes, presidente da Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais que representou a AGU na audiência.

"O teste de integridade não tem sentido. E o que chama mais atenção é excluir a magistratura dele criando-se castas entre os servidores públicos", afirmou.

Daiello evitou entrar em polêmicas sobre as dez medidas propostas pela força-tarefa da Lava Jato, mas alertou os deputados sobre o risco de aprovação de outras propostas que tramitam no Congresso, como a repatriação de recursos e a liberação dos jogos de azar.

"São algumas medidas negativas que nos preocupam e tramitam nessa casa que poderiam facilitar a lavagem de dinheiro", disse Daiello.

O diretor-geral destacou, porém, que é necessário aprovar medidas que fortaleçam as investigações. "Não vejo mudança feita através da polícia. Nós trazemos à tona o que está acontecendo, mas precisamos muito de medidas legislativas que nos deem fortalecimento e agilidade na investigação, claro que com respeito às garantias do cidadão", defendeu.

Romário de Paula também apontou itens do projeto de lei que concorda, como o aumento de penas para crimes de corrupção, ajuste de nulidades penais e propostas que trazem celeridade dos processos nos tribunais.

A proposta das dez medidas de combate à corrupção tramita em uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados, sob a relatoria deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Ele tem até o dia 1º de novembro para entregar o relatório final sobre a proposta.


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