Folha de S. Paulo


Lava Jato está preparada para reagir a pressões, dizem procuradores

Procuradores da Operação Lava Jato disseram neste sábado (18), em Oxford, no Reino Unido, estarem preparados para suportar e reagir a eventuais pressões para tentar enfraquecer ou interromper as investigações.

Para Deltan Dallagnol e Paulo Roberto Galvão, dois integrantes da força-tarefa da operação, a combinação de apoio popular e agilidade nas punições pode ser o antídoto para evitar um fim melancólico como o da Operação Mãos Limpas, investigação que não conseguiu regenerar a política italiana.

"Onde quer que exista uma atuação forte do sistema de justiça contra o sistema instalado que é falho e que beneficia determinadas pessoas, você enfrentará uma reação. Na Itália foi assim, no Brasil não será diferente", afirmou Dallagnol.

Na quinta-feira (16), o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), cobrou durante um almoço com empresários em São Paulo, "sensibilidade" dos agentes envolvidos na Lava Jato. Para Padilha, é preciso "sinalizar o momento" de a apuração caminhar para um desfecho.

A declaração foi feita um dia após a divulgação de que o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, envolveu o presidente interino, Michel Temer, em sua delação na Lava Jato.

"Os principais agentes da Lava Jato terão a sensibilidade para saber o momento de aprofundar ao extremo e caminhar para a definição final. Isso tem que ser sinalizado. Na Itália não houve essa sinalização e acabaram tendo efeito deletério. Não podemos correr esse risco aqui", disse o ministro.

Os procuradores não comentam a declaração de Padilha neste sábado. Mas afirmaram que estão alertas para evitar, em especial, a perda do apoio popular. Para Dallagnol, é a sociedade que tem protegido a Lava Jato.

"Precisamos avançar em várias frentes, uma delas é garantir a agilidade do processo judicial. Sem agilidade, você apresenta o risco de prescrição e isso gera impunidade. Também precisamos fechar outras brechas da lei", disse. Ele listou ainda a necessidade de criar instrumentos ágeis para recuperar dinheiro desviado e de medidas preventivas para a corrupção.

O procurador Paulo Galvão lembrou que a Lava Jato está no terceiro ano e foi justamente no terceiro ano que a Mãos Limpas começou a enfrentar dificuldades. Além da perda de apoio popular, políticos italianos conseguiram, por exemplo, alterar a legislação para dificultar a prisão preventiva em casos de corrupção.


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