Folha de S. Paulo


Deputados são os 'nossos libertadores', diz autor de pedido de impeachment

Na abertura dos três dias de debates e votação do impeachment no plenário da Câmara, um dos autores da denúncia contra a presidente Dilma Rousseff, o jurista Miguel Reale Jr. disse que os deputados são os "libertadores" da população da "prisão de mentiras e corrupção" que se tornou o país.

"Os senhores são os nossos libertadores dessa prisão que vivemos enojados no meio da mentira, da corrupção, da inverdade, de irresponsabilidade, do gosto pelo poder sem se preocupar com aquilo que vai acontecer na vida dos brasileiros, especialmente dos mais pobres", afirmou. "Os senhores são os nossos libertadores, os nossos libertadores", reforçou, gritando.

O jurista sustentou que o processo de impeachment não é golpe, como argumenta o governo. "Golpe sim houve quando se sonegou a revelação de que o país estava quebrado. Golpe sim houve quando se mascarou a situação fiscal do país, quando a continuaram fazer imensos gastos públicos e tiveram que se valer de empréstimos de entidades financeiras controladas pela própria União para artificiosamente mascarar a situação do Tesouro Nacional", declarou.

"Ainda dizem e repetem que não há crime", continuou. Reale Jr. questionou então qual seria "o crime mais grave": "o de um presidente que põe no seu bolso uma determinada quantia ou aquela presidente que, pela ganância do poder, em busca da manutenção do poder, não vê limites em destruir a economia brasileira?"

Segundo o denunciante, as pedaladas e a assinatura de decretos autorizando gastos sem a autorização do Congresso levaram à configuração de um "crime de falsidade ideológica". "Apresentou-se um superavit primário falso. E vai dizer que isso não é crime? Que vir a esta casa solicitar que se afaste a presidente por sua gravíssima irresponsabilidade em jogar o país na lona é golpe?"

"O Brasil entrou no cheque especial e está falido", disse. "E por que foi possível fazer isso? Porque foi possível esconder essa realidade da população brasileira por meio das pedaladas."

'CONJUNTO DA OBRA'

Apesar de não mencionar diretamente as partes da denúncia que não foram aceitas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, como as pedaladas de 2014 e o escândalo do Petrolão, Reale Jr. disse que "é o conjunto da obra que mostra a irresponsabilidade" da presidente.

A discussão de denúncias que não se referem ao atual mandato vem sendo questionada pela defesa –inclusive no STF (Supremo Tribunal Federal).

O processo de votação teve início na manhã desta sexta (15) no plenário da Câmara. Depois da acusação e da defesa, se revezarão no microfone representantes dos 25 partidos. Para cada legenda, iniciando pela maioria, será cedida uma hora de fala. As discussões vão entrar pela madrugada e só devem terminar na manhã de sábado.

No sábado é o dia das falas individuais de cada deputado. Eles poderão se inscrever até as 11h desta sexta e terão três minutos cada. Há duas listas de inscrição: contra e a favor do impeachment, e as falas serão intercaladas com um de cada lista.

A votação será a partir das 14h no domingo (17) e espera-se que até as 21h já se tenha o resultado.


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