Folha de S. Paulo


'A prisão fez mal' a João Paulo, diz prefeito de Osasco

Pedro Ladeira/Folhapress
O ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP)
O ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP)

O prefeito de Osasco, Jorge Lapas (PDT), responsabilizou o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha pela sua decisão de deixar o PT, filiando-se ao PDT. Na noite desta quarta-feira (6), Lapas chamou João Paulo de rancoroso ao enumerar as razões pelas quais deixou o PT.

"A prisão para ele fez mal. Ele voltou rancoroso. Espero que ele coloque a cabeça no lugar e volte a ser a pessoa que era no passado", disse Lapas.

Com a tarefa de afastar a ideia de que estaria abandonando o barco em plena crise, Lapas alegou ter deixado o PT depois que o grupo liderado por João Paulo Cunha avisou que teria que entrar numa disputa interna pelo direito de concorrer à sua própria reeleição.

Numa entrevista convocada para justificar sua saída, Lapas disse que ele e sua família estavam "sofrendo pelos erros cometidos pelos outros", sem ter reconhecimento do partido.

"Você se sente traído. Há uma mágoa muito grande com relação às outras pessoas do partido", disse.

Condenado a 6 anos e 4 meses de prisão por corrupção passiva e peculato dentro do processo do mensalão, João Paulo cumpriu pena em regime domiciliar de fevereiro de 2015 a março de 2016, quando recebeu indulto (perdão).

Líder de uma fatia do PT de Osasco, vinha impondo obstáculos ao prefeito mesmo antes da condenação. Um deles foi reter por três anos o processo de filiação de Lapas ao partido.

Lapas conta a aliados que apresentou sua ficha de filiação ao PT há 11 anos. Mas só foi formalmente aceito três anos depois.

CORRIDA ELEITORAL

A relação azedou de vez durante o julgamento do mensalão, quando João Paulo Cunha insistiu para concorrer à Prefeitura de Osasco. Mas o então prefeito, Emídio de Souza, apoiou o lançamento de Lapas - à época seu secretário de Obras - sob o argumento de que João Paulo seria condenado em plena corrida eleitoral.

Amigo de Emídio - que hoje preside o PT de São Paulo - Lapas admite que a relação ficou abalada já que sua saída tem forte impacto sobre o partido. Mas diz esperar que os dois se reconciliem.

Apesar das rusgas, depois da eleição de Lapas, João Paulo indicou dois secretários para a equipe do prefeito. Ontem, Lapas disse que os exonerou porque "foram indicados para atrapalhar". Outros petistas foram mantidos na equipe.

O prefeito disse também haver fortes indícios de que João Paulo Cunha vinha apoiando a candidatura do PTN à Prefeitura numa tentativa de desgastá-lo.

Lapas reclamou ainda de Valmir Prascidelli, aliado de João Paulo Cunha que teve seu apoio para chegar à Câmara de Deputados, mas nada fez para impedir a abertura de um processo de prévias no PT para a escolha do candidato à Prefeitura.

"Tenho uma aliança de 20 partidos. E vou ter que disputar no meu próprio partido?", queixa-se o prefeito.

Embora culpe petistas por sua decisão, Lapas reconhece que a desfiliação "acabou agregando novos partidos". Ele recebeu apoio do DEM, que é oposição ao governo Dilma.

O prefeito não poupa o partido que o abrigava até a semana passada, afirmando que o PT sempre foi intolerante com a corrupção, mas não mostrou a mesma intolerância com seus próprios filiados.

"Se tivesse cortado o mal pela raiz, não tinha chegado onde chegou", afirmou.


Endereço da página:

Links no texto: