Folha de S. Paulo


Humberto Costa diz que PMDB desembarcou para Temer assumir Presidência

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 11-11-2014, 12h00: Agenda do Presidente em exercício Michel Temer, no Palácio do Planalto. Temer recebeu diversas lideranças do PT e do PMDB para reuniões. Na foto o senador Humberto Costa (PT-PB). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE)

Mantendo a estratégia do Palácio do Planalto de colocar o vice-presidente, Michel Temer, na linha de tiro após o desembarque do PMDB da base aliada, o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), voltou a ocupar a tribuna da Casa, na tarde desta quarta-feira (30), e disse que a decisão ocorreu para abrir caminho a Temer para assumir a Presidência da República.

"Foi sem dúvida constrangedor assistimos ontem a cena em que integrantes da cúpula do PMDB anunciaram o rompimento com o governo do qual não eram apenas aliados, mas parte integrante. Não quero atribuir isso diretamente ao partido (...) O que ocorreu na terça foi uma decisão do comando do partido, especialmente do seu presidente nacional, o vice-presidente Michel Temer, para criar as condições de ascender à condição da Presidência da República".

Costa aproveitou para criticar a presença do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ) –foi o peemedebista quem deferiu, em dezembro, o pedido de impeachment de Dilma em curso na Câmara–, sentado ao lado do senador Romero Jucá (RR), que presidiu o encontro. O petista chamou de "afoiteza" a fala do deputado no evento de ontem e a mencionou.

"Vimos, de um lado, a figura lamentável do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, compondo a Mesa desse encontro, e que criticou, vejam que afoiteza –abre aspas: 'os graves escândalos de corrupção no país'– fecha aspas. O que diz muito sobre aquele episódio lamentável, que felizmente durou apenas três minutos", acrescentou.

Pedro Ladeira/Folhapress
Congressistas do PMDB durante oficialização do anúncio de rompimento com o governo Dilma Rousseff.
Congressistas do PMDB durante oficialização do anúncio de rompimento com o governo Dilma Rousseff.

Segundo o senador, o governo pretende manter as conversas com integrantes do partido que "guardam responsabilidade com o país e com a manutenção da ordem democrática pela qual o PMDB tanto lutou". "Entre esses integrantes inserem-se os ministros que decidiram restar conosco", acrescentou.

Como informou a Folha na tarde desta quarta, a ministra peemedebista Kátia Abreu (Agricultura), em uma troca de mensagens pelo celular, afirmou que os seis integrantes do partido que ainda ocupam cargos de primeiro escalão na Esplanada dos Ministérios não pretendem deixar os cargos, mas se licenciar do partido, em respeito à decisão tomada pelo PMDB ontem.

"Com os que se encastelam na estrutura orgânica do partido não nos interessa mais o diálogo, então buscaremos ampliar a conversa com os que se recusam a ingressar nessa quartelada civil (...) e, portanto, faremos esse diálogo seletivo".

Em tom duro, Humberto Costa disse que o Planalto aguarda aqueles que mantém discursos "inflamados" a devolverem os cargos que ocupam "em coerência com a proposta de não contribuir mais com a nossa administração". São mais de 600 na estrutura federal em todo o país.

Costa também respondeu as críticas feitas às tratativas abertas pelo governo para negociar com partidos médios da base, como PP e PR, os cargos deixados pelo PMDB.

"Temos neste momento a oportunidade de repactuar nossos apoios, recompor a nossa base com partidos verdadeiramente comprometidos com a governabilidade, com a democracia e com o futuro do Brasil", afirma o senador, seguindo com críticas ao programa do PMDB "Ponte para o Futuro", lançado no ano passado. "É dito literalmente no documento: o Brasil gasta muito com políticas publicas", completa o senador, segundo quem, ao assumir o comando do país, os peemedebista vão reduzir as políticas sociais.

CONTRAPONTO

Antes de Costa, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), que foi ministro da Previdência de Dilma no primeiro mandato, disse aceitar a decisão do PMDB de deixar a base, e pediu cautela.

"Eu gostaria de dizer que, na verdade, não pretendo ingressar nesse jogo nem pretendo me intimidar (...) Com relação ao presidente Michel Temer, que é tão acusado hoje, antes era considerado um vice-presidente da mais absoluta confiança a apreço, merecendo a admiração do atual governo", afirmou, completando ainda: "É aquela história, no ditado popular: nós damos tudo para não entrar numa briga; mas, se quiserem a briga, nós vamos topar", finalizou.


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