Folha de S. Paulo


Nervosa, Dilma convocou reunião de emergência e xingou Delcídio

Alan Marques/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff em cerimônia de posse dos novos ministros; ao fundo o ministro da AGU, Eduardo Cardozo
Dilma Rousseff na posse dos novos ministros; ao fundo, o ministro da AGU, Eduardo Cardozo

Eram quase 11h de quinta-feira (3) quando Dilma Rousseff convocou quatro de seus principais auxiliares para uma reunião de emergência em seu gabinete, no terceiro andar do Planalto. Nervosa, andou de um lado para o outro, bateu com as mãos sobre a mesa, xingou Delcídio do Amaral (PT-MS) e ordenou a divulgação de uma nota.

Assinado por ela, o texto diz que o governo "repudia o uso abusivo de vazamentos como arma política".

Diante dos ministros Jaques Wagner (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e do assessor especial da Presidência, Giles Azevedo, Dilma chegou a soltar um "filho da p." em referência ao senador.

Disse que suas declarações eram "mentirosas" e que o vazamento da delação deveria ser tratado como "crime".

Ali foi levantada a hipótese de a delação ser anulada em razão da publicidade do conteúdo, já que o sigilo é um pré-requisito para a homologação das declarações pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Dilma então leu a reportagem divulgada pela revista "IstoÉ", com trechos em que Delcídio cita seu nome e o do ex-presidente Lula. "Faremos uma defesa ponto a ponto."

Foi a respeito da refinaria de Pasadena que ela reagiu com mais indignação, segundo relatos. Delcídio diz que a presidente tinha pleno conhecimento do processo de aquisição da refinaria –comprada pela Petrobras com o valor de US$ 792 milhões superior ao que valia.

Dilma nega ter tido acesso ao contrato que sacramentava o negócio. À época, ela era presidente do Conselho de Administração da estatal.

Ao ler a citação em que Delcídio diz que conversou com a presidente em caminhada nos jardins do Palácio da Alvorada, Dilma esbravejou: "Isso nunca existiu! Não tenho intimidade suficiente com ele para passeios no jardim".

Segundo a delação, a presidente pediu a Delcídio, durante essa conversa, que falasse com o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Marcelo Navarro para votar pela libertação de empresários presos na Lava Jato.

A reunião precisou ser interrompida uma vez, quando a presidente, a contragosto, recebeu as equipes brasileiras de atletas olímpicos de ginástica artística. Impaciente, Dilma voltou ao gabinete.

A avaliação interna do governo é de que o conteúdo do depoimento acende a discussão sobre o impeachment no Congresso e que, muito provavelmente, a oposição vai apresentar novo pedido de afastamento de Dilma.

Além disso, avaliaram os assessores, os protestos marcados para 13 de março também devem ganhar fôlego.

O governo teme que Delcídio possa revelar fatos novos que possam complicar ainda mais a situação de Dilma. nas palavras de um assessor, é um caso que envolve um inimigo que, até pouco tempo, partilhava da intimidade do Planalto.

Delcídio delata


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