Folha de S. Paulo


Em depoimento, banqueiro diz conhecer senador 'institucionalmente'

Alessandro Shinoda - 18.out.12/Folhapress
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 18-10-2012, 16:01: O banqueiro e presidente da BTG Pactural André Esteves, durante entrevista para a Folha de S. Paulo, na sede do BTG Pactua, em São Paulo (SP). (Foto: Alessandro Shinoda/Folhapress, MERCADO) ORG XMIT: AGEN1210181933444562
O banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, preso nesta quarta (25)

Em depoimento na sede da Polícia Federal do Rio, o banqueiro André Esteves disse conhecer o senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, apenas "institucionalmente".

Segundo Esteves, eles se encontraram cinco vezes, sendo a última na sede do BTG, em São Paulo.

Nesta quarta (25), o banqueiro e o senador foram presos sob a acusação de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato.

No depoimento, do dono do banco BTG Pactual disse que Esteves e Delcídio conversaram em todas as ocasiões sobre a situação econômica do país e a possível adoção da CPMF (imposto sobre transações financeiras).

Segundo o banqueiro, eles nunca conversaram sobre a Lava Jato. Em seu depoimento, Esteves diz não conhecer o advogado Edson Ribeiro, o chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira, ou o filho de Nestor Cerveró, Bernardo.

Na noite desta quarta, o advogado de Esteves, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, pediu a revogação imediata da prisão ao ministro Teori Zavascki, do STF.

A defesa alega que ele nunca teve em mãos qualquer depoimento da Lava Jato, não conhece as pessoas envolvidas na denúncia e que as buscas em suas casas e no BTG já teriam ocorrido, significando que sua liberdade não atrapalharia as investigações.

"Ele está perplexo com tudo isso. Imagina você acordar às 6h com a Polícia Federal em sua porta. O André Esteves não tem envolvimento com nada disso", disse Kakay.

DIA NA PRISÃO

No almoço desta quinta (26), o banqueiro almoçou uma quentinha de alumínio com macarrão, carne, arroz e feijão numa cela da Superintendência da Polícia Federal, no Centro do Rio.

O banqueiro está no local desde o fim da tarde de quarta, aguardando a decisão do ministro Teori Zavascki do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o local onde cumprirá os cinco dias de prisão temporária determinados pelo tribunal.

A sede da PF no Rio é a única superintendência no país que não possui um sistema para custódia de presos. Por isso, todos os detentos levados para o local passam, geralmente, uma única noite antes de seguirem para um presídio do sistema penitenciário do Rio. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2011, quando o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, foi preso pela PF.

Antes de dormir no local, nesta quarta, duas advogadas de André Esteves ajudaram a limpar a cela de 9 m². O banqueiro disse aos policiais que é alérgico.

Antes da limpeza, as advogadas foram até uma loja na Praça Mauá, no centro do Rio, e compraram roupa de cama, toalha e sabonete para o banqueiro passar a noite. No retorno à superintendência da PF, arrumaram um colchão no chão da cela.

Os advogados trouxeram ainda um sanduíche e um refrigerante para o jantar. Esteves passou, segundo os policiais federais, boa parte da noite acordado.

A PF no Rio aguarda a decisão do STF para saber se o banqueiro será transferido para outro Estado ou encaminhado para o presídio Ary Franco, na zona norte da cidade, que tem uma ala de presos à disposição da Justiça Federal.


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