Folha de S. Paulo


Professores do Paraná protestam com bolo em aniversário de Beto Richa

Marlei Fernandes de Carvalho e Mariah Seni
Manifestantes cantam protestam contra o governador do Paraná, Beto Richa, em frente à casa dele
Manifestantes cantam protestam contra o governador do Paraná, Beto Richa, em frente à casa dele

Em memória à ação policial que deixou quase 200 manifestantes feridos no final de abril, professores estaduais do Paraná ofereceram um bolo ao governador Beto Richa (PSDB) nesta quarta-feira (29), data do seu aniversário, em frente à casa dele, em Curitiba.

"É o 'desaniversário' do governador", diz a diretora da APP Sindicato (que representa os docentes estaduais), Marlei Fernandes.

O dia também marca três meses da ação policial, denominada de "massacre dos professores" pelo sindicato. A categoria, que entrou em greve por duas vezes neste ano contra medidas de ajuste fiscal do Estado, foi a principal atingida no confronto.

Desde as 7h, cerca de 50 manifestantes se colocaram em frente à casa do governador, onde serviram um café da manhã.

Faixas e um carro de som anunciavam frases de protesto, como "Richa, parabéns por quebrar o Paraná". O Estado vive uma crise financeira e fechou o ano passado com uma dívida de quase R$ 1 bilhão. Férias e licenças de professores tiveram de ser parceladas ou prorrogadas.

Pouco antes das 9h, o grupo cantou um "parabéns" de protesto ao governador: "Desparabéns pra você nesta data maldita, muito bolo estragado, muita dor de barriga", cantavam.

Richa não estava em casa. Ele cumpre agenda em São Paulo desde esta terça-feira (28), e só volta ao Paraná na noite de quinta (30).

"Nós temos a compreensão de que o governador é o grande responsável por tudo que aconteceu", afirma Fernandes. "Queremos relembrar essa data, mantendo viva a memória desta luta".

O sindicato programou outros atos para esta quarta. À tarde, distribuirá um bolo à população na Boca Maldita (centro de Curitiba). Lá, também promete organizar um "museu ao ar livre", com alguns dos artefatos usados pelos policiais para reprimir os manifestantes três meses atrás.

O Ministério Público Estadual já ingressou com uma ação de improbidade administrativa contra Richa, por ter dado "respaldo político, institucional e administrativo" à operação.

O tucano refuta as acusações. "Não posso ser acusado de improbidade por ter cumprido a lei e garantido o funcionamento de uma instituição democrática", declarou ele, à época.

No dia do protesto, a polícia protegia o prédio da Assembleia Legislativa, onde deputados votavam as propostas de ajuste fiscal do Estado.

REAÇÃO

A popularidade de Richa, reeleito no primeiro turno no ano passado, despencou após a ação policial. Professores promoveram passeatas com milhares de pessoas, e atos de protesto, ainda que pequenos, se tornaram comuns em agendas públicas do governador.

No auge da crise, o índice de aprovação do tucano chegou a 7%, de acordo com pesquisas internas. Segundo aliados do tucano, porém, a reação já começou.

O tucano tem como estratégia voltar a viajar pelo Paraná, mantendo contato com a população, e colher os frutos do ajuste fiscal.

Os precatórios do Estado (dívidas com ordem judicial), por exemplo, foram postos em dia neste mês. Algumas obras em parceria com a iniciativa privada, como duplicações de rodovias, foram inauguradas.

Aliados dizem que a aprovação de Richa voltou a subir e já estaria na casa dos 20%.

"Ele será um dos poucos governadores que vai entrar em 2016 com dinheiro em caixa. Dá para recuperar", diz o deputado Alexandre Curi (PMDB), que integra a base aliada do tucano.

Richa acusa o sindicato dos professores de agir politicamente –a APP é filiada à CUT, que tem laços históricos com o PT. O sindicato rebate. "Nós somos plurais. A CUT é uma central sindical, e não partidária", diz Fernandes.


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