Folha de S. Paulo


Lindbergh entra em contradição com Genú e Costa sobre campanha eleitoral

Em depoimento que prestou à Polícia Federal, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) entrou em contradição com depoimentos prestados por dois investigados pela Operação Lava Jato: o do delator e ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o do ex-assessor do PP João Claudio de Carvalho Genú.

Lindbergh afirmou à PF, no inquérito aberto por ordem do ministro relator no STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki, que não conhece Genú, não se reuniu com ele entre 2013 e 2014, ocasião em que disse ter conversado com Costa sobre programa de governo na área de óleo e gás na sua campanha eleitoral ao governo do Rio, em 2014.

A presença ou não de Genú nas conversas ganha relevo porque Lindbergh diz que tratava com Costa sobre o potencial econômico do Estado e só em um dos encontros discutiu-se eventuais doadoras de campanha.

Genú, na época já condenado pelo STF por envolvimento no escândalo do mensalão, braço direito do falecido deputado federal José Janene (PP), um dos artífices do escândalo na Petrobras, e sem qualquer relação com o tema da energia, complica a versão do senador de que houve apenas consultas técnicas a Paulo Costa.

O ex-assessor do PP detalhou em depoimento também prestado à PF, no último dia 9, que se reuniu entre o final de 2013 e início de 2014 duas vezes com Lindbergh, Costa e assessores do parlamentar.

Em sua delação premiada de setembro passado, Paulo Costa também afirmou que Genú participou das conversas com Lindbergh. O ex-diretor da estatal disse que recebeu uma planilha, elaborada por Genú, "onde constariam doações oficiais para a campanha de Lindbergh".

Em depoimento, Genú diz que o primeiro encontro ocorreu em "um restaurante italiano na Barra da Tijuca, dentro de um shopping", cujo nome disse não se recordar.

Na reunião, disse Genú, Lindbergh convidou Costa a se tornar secretário em um futuro governo do Rio e pediu sua ajuda para elaborar um programa de governo na área de óleo e gás. Em seguida, segundo Genú, "também se tratou de captação de recursos para a campanha". Lindbergh teria indagado "de que forma Roberto poderia ajudar".

A segunda reunião, segundo Genú, ocorreu no restaurante Fidúcia, em Copacabana, no Rio, com "as mesmas pessoas" do encontro anterior. Na reunião, "passou-se a detalhar quem seriam os potenciais colaboradores" para a campanha. Antes do encontro, disse Genú, foi feita uma prospecção, chegando-se a uma lista de empreiteiros que poderiam ajudar. Dois deles, Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, e Sergio Mendes, da empreiteira Mendes Júnior, tinham negócios na Petrobras e posteriormente foram presos na Operação Lava Jato.

O depoimento do senador foi completamente diferente nesse ponto. Ele disse que "com certeza João Claudio Genú não participou desse encontro e tampouco o conhece".

Indagado sobre a contradição, Lindbergh disse ao delegado da PF que "não sabe por que" Costa mencionou a presença de Genú. A posição de Lindbergh foi reforçada pelo seu ex-assessor José Antonio Silva Parente, o "Totó", que disse apenas ter dado conselhos na campanha do senador, "na condição de amigo". No seu depoimento, primeiro Parente hesitou sobre a presença de Genú, mas depois "puxou pela memória" e concluiu "ter certeza" de que o ex-assessor do PP não participou das conversas.

Em seu depoimento, Lindbergh Farias reconheceu ter recebido uma ajuda de campanha a partir de uma recomendação de Costa, mas na disputa eleitoral ao Senado, em 2010. Segundo ele, a empreiteira Andrade Gutierrez colaborou para sua campanha após uma "sugestão" de Costa.

O senador disse que foi pessoalmente falar com dois executivos da empreiteira, Alberto Quintaes e Otávio Azevedo. Segundo o senador, a doação foi feita ao diretório nacional do PT, que repassou o valor à campanha local.

Linbergh defendeu suas relações com Costa, dizendo que as doações foram oficiais, feitas para o caixa declarado do PT.

Ao final do depoimento, o senador disse que gostaria de registrar "sua indignação com a instauração" do inquérito, "já que em 2010 não ocupava nenhum cargo público, nunca indicou ninguém a cargo na Petrobras, nunca prestou ajuda a nenhuma das empresas investigadas".

Ao perceber a contradição entre as versões de Lindbergh e Genú, a delegada da PF que cuida do inquérito, Graziela Machado da Costa e Silva, despachou "no sentido de obter cópia das declarações de João Claudio Genú prestadas na data de ontem (9), em que menciona relação com Lindbergh Farias, promovendo-se a juntada" do documento ao inquérito.

A investigação foi enviada ao STF com o pedido de dilação de prazo por 60 dias para continuidade do inquérito. O STF enviou o caso à PGR (Procuradoria-Geral da República), que opinará sobre o pedido.

OUTRO LADO

Em nota, o senador reafirmou que não conhece "João Cláudio Genu e jamais esteve com ele reservadamente".

"Se ele esteve em algum encontro de minha campanha, onde compareciam dezenas de pessoas, a convite de terceiros, eu não o notei", diz o texto.

O petista citou ainda depoimento de Paulo Roberto Costa. "Agora, esses fatos são da eleição de 2014. Quero registrar que, em seu depoimento, o próprio Paulo Roberto Costa afirmou que 'não viu nada de ilícito nessa iniciativa de contatar empresas em busca de doações, pois foi dito que seriam doações oficiais', além de reconhecer que 'não chegou a realizar nenhum contato com as empresas na tabela, pois acabou sendo preso em seguida'", diz a nota.


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