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Vargas confirma ida para Direitos Humanos mas recua após telefonema

Beto Barata - 8.abr.2015/Folhapress
Pepe Vargas, que foi titular da extinta pasta de Relações Institucionais, durante coletiva em Brasília
Pepe Vargas, que foi titular da extinta pasta de Relações Institucionais, durante coletiva em Brasília

Recém substituído pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB) no comando da articulação política do governo, o ministro Pepe Vargas confirmou sua ida para a Secretaria de Direitos Humanos, órgão vinculado à Presidência da República, nesta quarta-feira (8), antes mesmo da presidente Dilma Rousseff fazer o anúncio oficial. Em seguida, ele recuou após receber um telefonema.

O ministro convocou uma entrevista coletiva para confirmar sua transferência. Durante a sua fala, o ministro se retirou para atender a uma ligação. Ao retornar, três minutos depois, ele recuou e disse que sua nomeação ainda depende de uma decisão de Dilma.

O anúncio de Vargas aconteceu antes mesmo de Dilma conversar pessoalmente com a ministra Ideli Salvatti, atual titular da pasta. Ela se reuniu com a ministra horas depois da entrevista.

"A presidente me convidou para ir para a Secretaria de Direitos Humanos. Eu coloquei para ela que eu poderia ajudar o seu governo e o Brasil através do meu mandato e poderia perfeitamente retornar para a Câmara. A presidenta insistiu querendo que eu permanecesse na sua equipe. [...] Vou acolher o pedido da presidente e vou continuar colaborando com a sua equipe", disse antes do telefonema.

Editoria de Arte/Folhapress

Ao retornar, o ministro afirmou que ainda que não havia saído o comunicado oficial. "É importante dizer que a presidente não confirmou essa questão da SDH. Não houve um comunicado oficial em relação a isso. O que eu digo para a presidenta é que, se ela quiser me aproveitar na sua equipe, eu aceito o convite de continuar contribuindo com a sua equipe", disse. De acordo com sua assessoria de imprensa, a ligação era de cunho pessoal.

"Essa decisão só estará tomada quando a presidenta fizer o comunicado", disse. Ainda não há previsão de quando sua ida à secretaria será oficializada.

Vargas avaliou que desenvolveu um bom trabalho à frente da Secretaria de Relações Institucionais –pasta que será extinta e cujas funções passarão à vice-presidência– e afirmou que o governo teve 75% de vitórias no Congresso, mas ponderou que os problemas enfrentados com o PMDB minaram a sua atuação.

"É inegável que em algumas matérias houve um ruído forte entre as posições do PMDB e do governo. É também evidente que esse ruído desorganiza e desestabiliza a base. A presidente fez então uma opção de entregar a articulação política para o PMDB e eu torço pelo sucesso do vice-presidente Temer nessa atividade", disse.

Questionado sobre as críticas que recebeu ao longo de sua atuação, Vargas afirmou que as críticas são normais. "Eu recebo críticas desde o dia em que eu fui anunciado ministro. A gente não pode trabalhar só em cima de críticas. As críticas muitas vezes são infundadas, outras vezes podem ser até fundamentadas mas a gente não pode ficar olhando críticas para saber o que vai fazer", disse.

Dilma anunciou a troca de Pepe Vargas por Temer nesta terça (7), depois de convidar o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), do PMDB, para ocupar a Secretaria de Relações Institucionais.

Padilha recusou alegando motivos pessoais, mas nos bastidores enfrentou resistências dos presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL).

O ministro confirmou que ficou sabendo de sua substituição pela imprensa mas disse que não guarda mágoa da presidente. "De fato fiquei sabendo pela imprensa por conta de um vazamento. Tão logo fiquei sabendo, liguei para a presidente e nos reunimos no dia seguinte. Ela fez isso de forma muito respeitosa. Não tenho nenhuma mágoa", disse.

Questionado se a nomeação de Temer aumenta o projeto de poder do PMDB, Vargas minimizou a questão e disse que há apenas um programa de governo.

"Não existem programas distintos. Existe um programa consensual entre os partidos. Pode ter, eventualmente, divergências mas a presidente foi eleita para um programa de governo e a sua equipe trabalha para a consecução desse programa de governo", disse.


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