Folha de S. Paulo


Governo Dino usa rádio estatal do Maranhão para rebater Sarney

Enfrentando forte oposição dos veículos de comunicação ligados à família Sarney, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), decidiu investir na rádio pública do Estado para divulgar as ações de sua gestão.

A nova programação da Timbira AM, que estreou na última terça-feira (10), foi apresentada como sendo resultado da "reestruturação" da emissora, que teria sido "abandonada" nos mandatos de Roseana Sarney –o que o governo anterior nega.

"Vamos romper com uma comunicação verticalizada em que só chegava ao público a versão do governo passado. A rádio era praticamente uma assessoria de imprensa ", diz o secretário de Comunicação, Robson Paz.

Francisco Campos/Divulgação
O governador do Maranhão, Flávio Dino, participa de programa na rádio Timbira, na terça-feira (10)
O governador do Maranhão, Flávio Dino, participa de programa na rádio Timbira, na terça-feira (10)

Rivais históricos, Dino venceu as eleições em outubro e encerrou um ciclo de 50 anos de hegemonia da família Sarney no Maranhão. Roseana é filha do ex-presidente.

Tanto na gestão anterior quanto na atual, a programação da rádio é composta por atrações musicais, jornalísticas e transmissões esportivas.

O secretário de Dino afirma que a emissora agora terá maior participação popular –na gestão anterior não eram permitidas entradas ao vivo de ouvintes– e dará ao governo a "oportunidade de divulgar informações de interesse público" que, por "questão política", não encontrariam espaço nos principais veículos maranhenses.

A família Sarney e aliados controlam o maior jornal do Estado, a afiliada local da rede Globo e diversas rádios. "Como eles eram proprietários de emissoras, não havia interesse em investir na rádio pública", diz Paz.

Os gestores da Timbira no governo Roseana rebatem o argumento. Afirmam que a rádio, fundada em 1941, estava fora do ar em 2009, quando a peemedebista assumiu o Estado pela terceira vez, e que só voltou a funcionar graças ao empenho dela.

"Contratamos 21 profissionais, consertamos o transmissor, que estava pifado, e reinauguramos em um mês [na ocasião]", diz o radialista Juraci Filho, ex-gestor da Timbira. "O governo atual tenta passar uma ideia esdrúxula de que recebeu a rádio abandonada."

Vinculada à Secretaria de Comunicação, a emissora tem atualmente 25 funcionários. A folha de pagamento, segundo o titular da pasta, é de R$ 42,3 mil mensais. Robson Paz não soube informar os custos de manutenção da rádio, que não tem dotação orçamentária própria.

Última secretária de Comunicação do governo Roseana, Carla Georgina diz que a gestão passada gastou R$ 300 mil por ano com a reestruturação da Timbira.

PRIMEIRA PÁGINA

Na mesma semana em que lançou a nova programação da Timbira, Dino ganhou reforço em outra trincheira da batalha midiática contra Sarney. No último domingo, a coluna semanal que ele assina no "Jornal Pequeno" passou a ser publicada na capa do diário, historicamente de oposição ao ex-presidente.

As edições dominicais de "O Estado do Maranhão" trazem, também na primeira página, uma seção fixa com artigos de Sarney. Nas duas últimas semanas, ele usou o espaço para atacar os governos de Dino e da presidente Dilma Rousseff pelo cancelamento da refinaria da Petrobras que seria construída no norte maranhense.

Reprodução
Coluna de José Sarney no jornal
Coluna de José Sarney no jornal "O Estado do Maranhão" na qual atacou Flávio Dino em 2014

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